Não é sempre fácil distinguir entre amigos e inimigos. É fácil ser vítimas de enganos: alguém pode se declarar nosso fiel aliado e mais tarde nos atraiçoa. Algum outro pode ser considerado um adversário ao ser atacado, caluniado e contrariado e no fim se revela como um parceiro leal que luta pela nossa mesma causa. Às vezes nos sentimos desanimados porque imaginamos estar sós no caminho do bem. Mas, logo levantamos nosso olhar, eis que aparecem muitos companheiros de caminhada, generosos, sinceros e bem-dispostos. Nem sequer sabíamos da sua existência. Como podemos distinguir quem está conosco e quem contra nós? No evangelho de hoje há dois episódios nos quais encontramos as respostas de Jesus.
No primeiro faz entrar em cena um homem que se apresenta a Jesus e lhe diz: "Mestre, eu te trouxe meu filho, que tem um espírito mudo. Este, onde quer que o apanhe, lança-o por terra e ele espuma, range os dentes e fica endurecido. Roguei a teus discípulos que o expelissem, mas não o puderam" (Mc 9,18).
No segundo, que nos é proposto no evangelho de hoje, introduz um exorcista anônimo que, usando o nome de Jesus, consegue, ao contrário, excelentes resultados contra as forças do mal. Previsível e imediata a reação dos discípulos que manifestam a Jesus o próprio desapontamento e a própria irritação: mais um que não nos segue, que não pertence ao nosso grupo, que realiza as mesmas obras que nós fazemos e até maiores? Se alguém ocupa o mesmo espaço, com bons resultados, onde nós somos chamados a cumprir nossa missão, é isso motivo de alegria ou de preocupação? Quem o autorizou a usar o nome de Jesus? A quem Ele deixou como herança o seu Espírito? Notemos atentamente as suas palavras: "Ele não nos segue".
Não está escrito que não segue Jesus, mas que não seguem a eles, os discípulos. O orgulho, a presunção fez explodir nos Apóstolos o exclusivismo arrogante e sectário, a convicção que são os exclusivos e indiscutíveis donos do bem a ponto, o ponto de referência obrigatório para quem queira usar o nome de Jesus. Estão aborrecidos pelo fato que alguém esteja cumprindo obras boas embora não faça parte do seu grupo. O comportamento dos discípulos é ridículo, mesquinho.
Quem dentre nós ficaria zangado se durante a vida ou no tempo da colheita do trigo, um transeunte parasse para nos ajudar? Quem dentre nós ficaria chateado se ele trabalhasse mais e melhor do que nós? Infelizmente entre os discípulos de Cristo isso acontece. Há cristãos que fingem não enxergar, que procuram ignorar, esconder, minimizar o bem praticado por alguém que não pertence à Igreja, por alguém que não tem fé. Não conseguem alegrar-se com os gestos de amor manifestados em benefício de outros.
Não se conformam que possa haver seguidores de outras religiões melhores do que eles, não aceitam lições de honestidade, de lealdade, de não violência, de hospitalidade, de generosidade, de tolerância. A todos os "anáticos" que, por terem o nome de discípulos, julgam serem as únicas pessoas vivificadas pelo Espírito, Jesus diz: quem quer que trabalhe em benefício do ser humano, é dos nossos. O Espírito não é propriedade exclusiva da estrutura da Igreja. Atua também fora dela.
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