A compreensão da Boa-Nova de Jesus para o domingo de hoje constitui-se no fundamento da vida e da espiritualidade cristã, entendidas como seguimento na existência cristã. Seguir e contemplar o Cristo glorioso é fácil e consolador. Mas o Cristo dos Evangelhos, apresentado como modelo da prática cristã e fonte de inspiração, é o Mestre que convida ao seguimento, pela renúncia total e pelo carregar a própria cruz, pois quem deseja ser fiel ao projeto do Reino deve identificar-se com o Servo-Sofredor, abandonando, de uma vez por todas, a mentalidade do falso messianismo.

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Os primeiros cristãos tinham o mesmo desejo de seguir Jesus, viver como discípulos. Procuravam ter, em seu coração, os sentimentos que animavam Jesus. Queriam segui-lo a ponto de serem um com Ele, tanto na vida como na morte e ressurreição. Mas o caminho era exigente e tornou-se fonte de muitas tensões, para as quais não havia respostas prontas. O seguimento supõe vinculação, adesão à pessoa de Jesus. Assim, o seguidor adere à sua causa, aos seus ideais e à sua missão, transformando-se "num pescador de homens" para o Reino e num mensageiro da paz.

O seguimento requer renúncia dos próprios conceitos acabados, ruptura com as velhas seguranças, abandono dos projetos pessoais. A adesão incondicional a Jesus Cristo, prolonga-se até a paixão, morte e ressurreição. Assumir o projeto e as atitudes de Jesus deixa o discípulo exposto às injúrias, à rejeição e à agressão, isto é, os seguidores de Jesus acompanham o Mestre no caminho da cruz e no sacrifício: "Se alguém quer me seguir, tome a sua cruz e me siga". O seguimento traz consigo a exigência da inserção numa comunidade plural em sua expressão cultural, no modo de viver, de pensar etc. Nessa comunidade, os seguidores são chamados a constituir uma fraternidade alternativa à experiência social cotidiana: "Eles serão irmãos, filhos do mesmo Pai" pelo serviço mútuo, no perdão fraterno e com espírito de generosa gratuidade.

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A opção de seguir Jesus, caminho, verdade e vida, traz consigo a exigência da disponibilidade do discípulo a tudo o que o Mestre solicitar-lhe na realização da missão. Jesus vivia existencialmente cativado pelo Reino. Anunciar o Reino torná-lo presente, comunicá-lo é a missão de quem opta radicalmente pelo seguimento. A causa do Reino é tão apaixonante e tão absorvente, que todo o resto é relativo e provisório. O amadurecimento no seguimento de Jesus e a paixão por anunciá-lo requerem que a Igreja renove-se constantemente em sua vida e ardor missionários.

No sentido amplo da palavra, toda pessoa de fé é seguidora de Jesus Cristo, aderindo à sua pessoa, comprometida com sua causa, convidada a compartilhar de seu destino: sofrimento da cruz, morte e ressurreição, alegria pela vitória. A Igreja é seguidora de Jesus porque é sacramento de Cristo. É o novo povo de Deus que o Espírito Santo conduz nas pegadas do Senhor. No tempo da continuidade da missão de Jesus, até a sua plena realização, o seguimento é obra do Espírito Santo. Nesse tempo, uma autêntica evangelização concretiza-se no seguimento de Cristo por causa da justiça, no perdão e no amor. Esse amor supera o amor humano e participa do amor divino, único eixo cultural capaz de construir uma cultura da vida.

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.