A liturgia deste domingo ensina a vaidade da riqueza. Para que tanto trabalhar, se nada podemos levar e devemos deixar o fruto de nosso trabalho para outros? Os pais arrecadam, os filhos aproveitam, os netos põem a perder... No evangelho, Jesus ilustra essa realidade com a parábola do homem que chegou a assegurar sua vida material, mas na mesma noite iria morrer. Quem é materialista e só quer conhecer os prazeres deste mundo, para este o ensinamento de Jesus é indigesto, mas nem por isso deixa de ser verdade. Não levamos nada daqui. As riquezas materiais não têm valor duradouro, nem podem ser o fim ao qual o homem de dedica.
Talvez o consumismo de hoje tenha isto de bom: lembra-nos essa precariedade. O produto que compramos hoje, amanhã já sai da moda, e depois de amanhã nem haverá mais peças de reposição para consertá-lo! Nossa nova tevê estará fora de moda antes que tivermos completado as prestações. Por outro lado, esse consumismo é grosseira injustiça, pois gastamos em uma geração os recursos das gerações futuras. Se as coisas valem tão pouco, melhor seria não as comprar, e voltar a uma vida mais simples e mais desprendida. Haveria recessão econômica, mas também haveria menos necessidade de dinheiro para ser gasto.
A caça à riqueza material é um beco sem saída. A razão por que se insiste em produzir sempre mais, é que os donos do mundo lucram com a produção, sobretudo das coisas supérfluas que enchem as prateleiras das lojas. Para vender esses supérfluos, criam nas pessoas a necessidade de possuí-las, mediante a publicidade na rua, no jornal e na televisão. Quando então as pessoas não conseguem adquirir todas essas coisas, ficam irrequietas; quando conseguem, ficam enjoadas; e nos dois casos aparece mais uma necessidade: a psicoterapia. A "sabedoria do lucro" é injusta e assassina. Leva as pessoas a desconsiderar os fracos. Um proeminente político deste país disse que "quem não pode competir não deve consumir". O sistema do lucro e o desejo sempre mais acirrado precisa manter as desigualdades, pois parte do pressuposto que todos querem superar a todos. Tal sistema é "intrinsecamente pecaminoso", disseram os papas Paulo VI e João Paulo II. Ser rico, não para si, mas para Deus.
Não amontoar riquezas que na hora do juízo serão as testemunhas de nossa avareza, injustiça e exploração, mas riquezas que constituam a alegria de Deus. Não adianta muito discutir se a produção tem que ser capitalista ou socialista, enquanto não se tem claro que o ser humano não existe para a produção, e sim a produção para o ser humano. E este, se for sábio, tentará precisar dela o menos possível.
Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.