Em tempos de forte materialismo, como o tempo que estamos vivendo, é ao mesmo tempo estranho e necessário reforçar a dimensão mística de nossa fé. Não temos aqui morada definitiva, não devemos parar aqui em tendas construídas por nós mesmos, nem que sejam tendas dedicadas a Jesus e aos seus santos predecessores. O seguidor de Jesus tem de entrar na Morada que este traz consigo, a nuvem escura, que no Antigo Testamento desce sobre a morada quando Deus fala a Moisés: a revelação da glória divina acontece na escuridão humana. Em Êxodo 40,34-35 conta que Moisés não podia entrar na Morada ou Tenda porque a nuvem repousava sobre ela. Lucas 9,34 nos ensina que junto com Cristo podemos entrar nessa nuvem escura da glória de Deus, nuvem que na noite se transforma em luz. Nossa sociedade tem medo da escuridão, e não por menos, com tanto criminoso solto por aí.

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Mas para muitas pessoas um apagão, uma noite sem luz, é uma experiência libertadora. Aprendem a largar suas seguranças humanas. A mística medieval descreveu a nuvem como a "nuvem do não saber". Na noite dos sentidos, quando eu não domino mais o meu mundo com o meu saber, com minha tecnologia, com minha tevê e computador, quando o mundo é novamente do Criador invisível, então revela-se a verdade do meu existir e de toda a humanidade. Estou entregue a Deus.

Esta glória invisível na escuridão da nuvem chama-se Jesus Cristo. Ele está iniciando o caminho da rejeição e da morte. Há pouco Pedro se revoltou contra a idéia de que "ídolo" devia sofrer. Contudo, é sobre esse caminho da cruz que Moisés e Elias, a lei e os profetas, testemunham. Mas esse é exatamente o caminho do arrebatamento, da entrada da glória do Pai por ter levado a termo o seu projeto, instaurado o seu reinado.

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Na escuridão dos nossos sentidos e de um mundo que na sua iluminação perdeu a cabeça, o caminho do Filho e Servo que enfrenta o sofrimento por amor até o fim é um raio de luz gloriosa que desenha o sentido de nossa caminhada. Desde que não tenhamos medo de ficar na escuridão, entrar na nuvem. Esta festa nos convida a deixar-nos envolver pelo mistério do filho no qual o Pai coloca todo o seu beneplácito e ao qual devemos unir-nos em obediência para com Ele realizar o plano que o Pai confiou com os plenos poderes do Filho do homem. A transfiguração vem completar o primeiro anúncio da Paixão, como visão antecipada da glória que coroa o caminho da cruz.