Em toda a Judéia, segundo o evangelho deste domingo, o povo alimentava grandes esperanças no Messias que devia chegar. Ele, dizia-se, transformará a situação social: tirará os ricos dos seus tronos, destruirá os malvados, e tornará felizes os pobres; acabará com o mundo antigo e dará início a um mundo e a uma humanidade completamente novos. Mas porque esse Messias demora tanto tempo?, perguntavam-se todos. Os rabinos respondem: Ele não vem por causa dos pecados do povo de Israel. João Batista então começa sua pregação ao longo do Jordão, conclama a todos para a conversão, fala de um batismo para a conversão dos pecados, exige que se constitua uma comunidade de pessoas dispostas a mudar de vida.
Desse modo, pensa ele, manifestar-se-á ao mundo o Messias. Muitos lhe dão ouvidos. De Jerusalém e dos povoados de toda a Judéia partem e vão a sua direção para receber o batismo. Trata-se daqueles que querem que alguma coisa mude, são as pessoas cansadas de viver num mundo e numa sociedade de injustiças e de maldade. Façamos uma comparação com a realidade do mundo de nossos dias. Nós também nos deparamos freqüentemente com situações intoleráveis e com razão esperamos uma mudança radical.
Mas o que fazemos para favorecê-la? Podemos, por acaso, exigir que os outros se convertam, quando nós não queremos mudar os nossos maus hábitos, quando nós não estamos dispostos a renunciar aos nossos pequenos e grandes egoísmos? Podemos, por acaso, exigir que os ricos e poderosos não oprimam os pobres e os fracos, se, de nossa parte, nos nossos lares continuamos mantendo um comportamento arrogante e prevaricador, se nos comportamos como dominadores em relação às mulheres e em relação aos mais fracos, se no ambiente de nosso trabalho nos exaltamos contra aqueles a quem deveríamos servir? Enquanto não renunciamos aos nossos pecados, como exigia João Batista, não poderemos esperar a vinda do Salvador e pelo surgimento de uma sociedade e de um mundo novo.
Conversão não é uma coisa trágica. Deus já voltou seu coração para nós, resta-nos voltar o nosso para Ele. Ao proclamar o batismo de conversão, João Batista pressentia a proximidade de uma entrada gloriosa de Deus. Devemos sempre viver à espera desta "entrada gloriosa de Deus". Jesus veio e inaugurou o reinado de Deus, mas deixou a nós a tarefa de materializá-lo na História. Entretanto, Deus já coroou com a glória a vida dele e a obra que realizou: reunir as ovelhas como o pastor. No tempo dos primeiros cristãos, muitos imaginavam que Jesus ia voltar em breve com a glória do céu, para arrematar essa obra iniciada. Depois de alguns decênios, porém, começaram a cansar e a viver a perspectiva da chegada de Deus, caindo nos mesmos abusos que vemos hoje em torno de nós.
Por isso foi necessário que a voz da Igreja lembrasse a voz dos profetas: Deus pode tardar, mas não desiste do seu projeto. Mil anos para Ele são como um dia, mas seu sonho, "um novo céu, uma nova terra, onde habitará a justiça", fica de pé. Não vivamos como os que não têm esperança. Não desprezemos o fato de Deus estar voltado para nós. Voltemos sempre a Ele.
Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.
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