O fim para o qual vivemos reflete-se em cada uma das nossas ações. É o que nos ensina a Palavra de Deus neste domingo.  A cada momento pode chegar o fim de nossa vida. Seja este fim aquilo que vigilantes esperamos como a noite da libertação, que encontrou os israelitas preparados para saírem do Egito e não como uma noite de morte e condenação, como o empregado malandro que é pego de surpresa pela volta inesperada do seu patrão.

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Devemos preparar-nos para o definitivo de nossa vida, aquilo que permanece, mesmo depois da morte. Mensagem difícil para o nosso tempo de imediatismo. Muitos nem querem pensar no que vem depois; contudo a perspectiva do fim é inevitável. Já outros vêem o sentido da vida na construção de um mundo novo, ainda que não seja para eles mesmos, mas para seus filhos ou para as gerações futuras, se não têm filhos. Jesus abre outra perspectiva: um tesouro no céu, junto a Deus.

Aí a desintegração não chega. Mas, olhar para o céu não desvia nosso olhar para a terra? Não leva à negação da realidade história desta terra, da nova sociedade que construímos? Ou será, pelo contrário, uma valorização de tudo isso? Pois, mostrando como é provisória a vida e a história, Jesus nos ensina a usá-las bem, para produzir o que ultrapassa a vida e a história: o amor que nos torna semelhantes a Deus. Este é o tesouro no céu, mas ele precisa ser granjeado aqui na terra.

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A visão cristã acompanha os que se empenham pela construção de um mundo novo, solidário e igualitário, para suplantar a atual sociedade baseada no lucro individual. Mas não basta ficar simplesmente neste nível material, por mais que se dê realismo ao empenho do amor e da justiça. A  visão cristã acredita que a solidariedade exercida aqui na História é confirmada para além da História. Ultrapassa nosso alcance humano.

É a causa de Deus mesmo, confirmada por quem nos chamou à vida e nos faz existir. À utopia histórica, a visão cristã acrescenta a fé, "prova de realidades que não se vêem". A fé, baseada na realidade definitiva que se revelou na ressurreição de Cristo, nos dá a firmeza necessária para abandonar tudo em prol da realização última - a razão de nosso existir.

Dom Moacyr José Vitti CSS arcebispo metropolitano