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O fim para o qual vivemos reflete-se em cada uma de nossas ações. A cada momento pode chegar o fim de nossa vida. Devemos nos preparar para o definitivo de nossa vida, aquilo que permanece, mesmo depois da morte. Mensagem difícil para o nosso tempo de imediatismo. Muitos nem querem pensar no que vem depois, contudo a perspectiva do fim é inevitável. Já outros vêem o sentido da vida na construção de um mundo novo, ainda que não seja para eles mesmos, mas para seus filhos ou para as gerações futuras, se não têm filhos. Segundo o Evangelho deste Domingo, Jesus abre outra perspectiva: um tesouro no céu, junto a Deus. Aí a desintegração não chega.

Mas olhar para o céu não desvia nosso olhar da terra? Não leva à negação da realidade histórica, desta terra, da nova sociedade que construirmos? Ou será, pelo contrário, uma valorização de tudo isso? Pois, mostrando como é provisória a vida e a história, Jesus nos ensina a usá-las bem, para produzir o que ultrapassa a vida e a história: o amor que nos torna semelhantes a Deus. Este é o tesouro no céu, mas ele precisa ser granjeado aqui na terra. A visão cristã acompanha os que se empenham pela construção de um mundo novo, solidária e igualitário, para suplantar a atual sociedade baseada no lucro individual, mas não basta ficar simplesmente neste nível material, por mais que ele dê realismo ao empenho do amor e da justiça.

A visão cristã acredita que a solidariedade exercida aqui na história é confirmada para além da História. Ultrapassa nosso alcance humano. É a causa de Deus mesmo, confirmada por quem nos chamou à vida e nos faz existir. À utopia histórica a visão cristã acrescenta a fé, "prova das realidades que não se vêem". A fé baseada na realidade definitiva, que se revelou na ressurreição de Cristo, não dá a firmeza necessária para abandonar tudo em prol da realização última, a razão de nosso existir. Convém, portanto, abrir os olhos para aquela realidade que não aparece e, contudo, é decisiva para a nossa vida.

Sintetizando, poderíamos dizer: o mundo não é confiado como uma propriedade, mas como um serviço a um Senhor que está escondido em Deus, porém na hora decisiva se revelará ser nosso amigo e servo, de tanto que nos ama, a nós e aos que nos confiou. O importante desta mensagem é que cada um, assumindo a gente que Deus lhe confiou no dia-a-dia, está preparando sua eterna alegria junto a Cristo, o Senhor que serve. Pois Cristo ama efusivamente a gente que Ele confia à nossa responsabilidade. Não podemos decepcionar a esperança que Ele coloca em nós. A visão da vigilância como responsabilidade mostra bem que a religião do Evangelho não é ópio do povo. Implica até a conscientização política, quando, solícito pelo bem dos irmãos, a gente descobre que bem administrar a casa não é passar de vez em quando uma cera ou um verniz, mas também e sobretudo mexer com as estruturas tomadas pelos cupins...

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.

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