Em outubro passado a BBC noticiou que 15 mil chineses estariam sendo relocados da Província de Hunan. Só na semana passada o jornal China Daily noticiou que entre 397 crianças amostradas, no centro da China, 250 apresentaram níveis de contaminação de chumbo acima do permitido.
Contaminação por chumbo é um problema ambiental bem conhecido, mesmo que esteja ainda longe de estar resolvido. Conhecemos os sintomas, os métodos de controle para evitá-la, há padrões internacionais de níveis máximos permitidos no sangue. Por que a notícia é importante nesta altura do campeonato ambiental? O que isso tem a ver com Brasil?
A notícia chinesa me lembra dos primeiros momentos da sensibilização ambiental brasileira. No ano de 1978 a novela global Sinal de Alerta dava os primeiros passos nesta discussão, assim como eu, aliás. Uma música medíocre martelava o bordão "Salve o Verde" (as sutilezas de Jobim neste campo ainda não existiam). O empresariado ainda não gostava de palavras como sustentabilidade e ainda não possuía o verniz verde de hoje. Perdíamos tempo precioso discutindo o óbvio, como "Deixamos uma criança brincar em uma pilha de rejeito de chumbo, ou não?" "Brinquedos podem ser pintados com tinta à base de chumbo?"
A imprensa livre, que a China ainda não tem, aqui ajudou muito a levar essa parte óbvia da discussão, mas também não conseguiu chegar ao centro do problema: onde está a contaminação e o que fazer com ela.
A CETESB de São Paulo compilou uma lista dos locais contaminados, seguindo o exemplo do Superfund norte-americano. Quais outros estados sabem onde estão seus locais contaminados? Nem mesmo no caso paulista a lista chegou à mídia. Em Adrianópolis (PR), no alto Vale do Ribeira, a extração de chumbo terminou em 1996. Em 2005, um estudo da Unicamp encontrou 60% das mil amostras de sangue dos moradores ainda com níveis acima do permitido. Faça as contas e veja que Hunan fica bem próximo de Adrianópolis.
Assim como sua colega chinesa, a imprensa brasileira também não é livre o suficiente para falar muito no assunto (a não ser para dizer "Salve o verde"!) porque isso assusta anunciantes, muitas vezes também poluidores. E eles estão escassos nestes tempos de internet (anunciantes, não poluidores).
Na avenida mais chique da maior cidade brasileira um prédio de 26 andares é construído em cima de uma área contaminada sobre a qual o STJ emitiu sentença atestando que não está contaminada. Essa pequena história mostra de que é feito nosso país. Uma elite assentada em podridão. Mandatários passando por cima de fatos. Lucro às expensas de saúde humana. Não é necessária uma passagem da Air China para ver desmandos. Compre uma passagem de ônibus e economize para o imposto, porque é no seu bolso onde terminam todas as contaminações por aqui.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink