Uma crise financeira que já está afetando também a vida real implica em benefício ou prejuízo para o ambiente? Ambientalistas costumam associar a redução do desenvolvimento com melhorias ambientais. É difícil cuidar do ambiente quando as pessoas estão vivendo uma "corrida do ouro". Na China, altíssimas taxas de crescimento convivem com tempestade de areia e escassez generalizada de água. Mais próximo de nós, os moradores de Simões Filho (BA) destruíram os encanamentos de água da cidade atrás de manganês.
O crescimento da economia faz as pessoas cada vez em maior número adotarem um modo de vida baseado no consumo voraz de energia e recursos naturais e que uma redução do desenvolvimento talvez impeça algumas pessoas de agir assim. Dizem que o trânsito em Manhattan anda muito bom nestes dias.
A redução forçada do consumo leva a uma demanda menor de commodities, principal ganha-pão do Brasil. A produção de matérias-primas é grande consumidora de recursos naturais, tanto para sua extração como beneficiamento. O PIB agrícola, por exemplo, é a variável que mais se correlaciona com o desmatamento da Amazônia. Podemos então esperar alguma melhora nesse sentido, mas o descanso que a natureza pode ter por uma crise, mesmo que avassaladora, é curto. Depois que não mais que um ou dois anos estaremos consumindo da mesma forma. É muito pouco tempo para criar uma tecnologia menos destrutiva ou para mudarmos nosso desejo de consumo.
Somado a isto, o que define quantos recursos naturais um país produz não é sua taxa de desenvolvimento, mas a avidez com que consome recursos. Mesmo crescendo pouco, os Estados Unidos ainda são o país que mais consome recursos naturais do planeta. A China terá de crescer por muitos anos a 10% para alcançá-lo nesta corrida macabra.
Já para as pessoas, crises desta natureza destroem reservas acumuladas por anos e será mais difícil que elas pensem em causas coletivas quando seu modo de vida está ameaçado.
Quem vai lembrar de ir de bicicleta para o trabalho se está mais preocupado com o risco de ser demitido? Quem vai comprar um equipamento de energia solar se perdeu suas economias?
A percepção de insegurança não se desfaz rapidamente; vai levar anos para que recuperemos a disposição para causas ambientais a que chegamos em 2007. As notícias sobre aquecimento global, por exemplo, desapareceram na mídia nestas semanas. Apesar do tempo frio em Wall Street, as coisas continuam esquentando no resto do mundo. Quanto mais paz a classe média tiver, mais irá preocupar-se com questões de interesse coletivo.
Efraim Rodrigues, doutor em Ecologia pela Universidade de Harvard, é professor-adjunto de Preservação de Recursos Naturais e coordenador do Laboratório de Ecologia da Paisagem na UEL. É co-autor de Biologia da Conservação. www.efraim.com.br
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