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Efraim Rodrigues

A última do português

Portugal consegue ter uma expectativa de vida igual à americana com 1/6 do gasto de energia. Eles conseguem pensar em si próprios e nos "miúdos" das próximas gerações ao mesmo tempo

O texto desta coluna está a ser escrita em Portugal. Estou aqui para abrir o Evento Sustentar sobre energias renováveis. Minha palestra foi sobre aquelas ideias expostas na coluna da semana passada.

O evento está a ocorrer na pequena cidade alentejana de Moura que conta com 9 mil habitantes. É uma região difícil, com severas dificuldades hídricas, solos pouco férteis, temperaturas de 50 graus no verão e perto de 5 no inverno que cá está.

Se você está imaginando um fim de mundo no qual todos moradores são protagonistas de piadas de português, está a precisar rever seus conceitos.

O sol é a grande mercadoria dessa região e há milênios ele é coletado na forma de produção agrícola. Nós até "comemos" essa energia aí no Brasil. Muitos dos azeites no mercado brasileiro vêm daqui. Mas há alguns anos eles passaram a coletar energia solar de outras maneiras também.

A prefeitura dessa pequena cidade apostou todas suas fichas na energia solar. Construiu uma fábrica de células solares e instalou o maior parque solar do mundo, com 240 hectares de painéis em Amareleja que vão virando ao longo do dia como um gigantesco girassol.

O garçom do hotel me contou como ele paga 8 "cêntimos" por kW pela energia solar e pode vendê-los para o sistema por dez vezes com um painel no telhado de casa. O grande problema da energia elétrica é que não pode ser estocada como a água das usinas hidrelétricas ou a gasolina. Ou a energia elétrica é usada na hora ou é jogada fora, como fazemos no Brasil o dia todo para que no começo da noite, Itaipu e suas irmãs dêem conta do recado quando a nação liga seus chuveiros de R$ 15.

Já havia lido isso no livro Plano, Quente e Lotado de Thomas Friedman, mas ouvi-lo em viva voz de uma pessoa simples é mais importante pois mostra um componente importante do sucesso português: educação.

A grande sacada portuguesa foi estabelecer um mercado previsível de preços. Desde Amareleja até o produtor doméstico, todos sabem quanto ganharão. E com o passar do tempo o governo vai pagar menos e menos pela energia, mas até lá eles esperam ter criado uma demanda tão grande que estimule a produção em escala e barateamento dos painéis.

Em Lisboa há as conhecidas roupas secando nas janelas dos apartamentos. Secadoras são raras por aqui. Em todas "cafetarias" de rua, o "sumo" de laranja é feito na hora e servido em copo de vidro.

O moral da história é simples. Esse país consegue ter uma expectativa de vida igual à americana com 1/6 do gasto de energia. Eles conseguem pensar em si próprios e nos "miúdos" das próximas gerações ao mesmo tempo.

Você acerta sobre os portugueses se pensar mais em dom João VI e menos no seu Manuel da padaria.

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