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Efraim Rodrigues

Assado de galinha dos ovos de ouro

O fogo é uma tradição que os colonizadores portugueses herdaram dos índios. História! E ela está cheia de casos mal contados como esse. Índios usavam fogo em áreas restritas, não em continentes inteiros. Nossos colonizadores predaram a mancheias e retiveram o que lhes trazia mais ganhos rápidos.

Muitos grupos indígenas queimavam matéria orgânica verde, em um fogo com muita fumaça. O resultado ao longo de centenas de anos são solos orgânicos de altíssima fertilidade que mesmo depois de milênios ainda abastecem o mercado de Ver-O-Peso em Belém. São as terras pretas de índio. Isso não herdamos porque é ganho a longo prazo.

A dona de casa que reclama das queimadas é também parcialmente culpada quando reclama de varrer a fuligem no cimento. O mesmo cimento que impede a água de entrar no solo, o mesmo solo que sem água não deixa a árvore crescer, a mesma árvore que não transpira água e com o ar seco traz mais fogo e mais fuligem. Mais cuidado ao apontar esse dedo aí.

A solução para o fogo é triturar a matéria orgânica. A máquina para fazer isso está em operação na Embrapa há mais de dez anos e é uma novidade só porque em vez de inventarmos uma agricultura adequada a esta terra, trouxemos uma que funciona bem só onde neva. De novo, retivemos só o que interessa.

A matéria verde triturada fica depositada no solo e o protege do sol que seca e da chuva que lava, enquanto se decompõe aos poucos, liberando nutrientes também aos poucos para o solo. Essa energia toda será incorporada na vida do solo em vez de contribuir para o efeito estufa, e será o agricultor quem ganhará com isso.

O lobby ruralista tem sido bem-sucedido em colocar-se como tendo um ponto de vista oposto aos dos ambientalistas. É mentira. Ambientalistas querem viabilizar a agricultura a longo prazo, visando a seu bem, não a sua destruição. Essa é a discussão entre o filho que quer ver tevê comendo salgadinho e o pai que enxerga o prejuízo no longo prazo. O filho então chora e diz que será terrivelmente infeliz. Trata-se aqui de fortalecer o agrobusiness melhorando sua sustentabilidade e impedindo-o de queimar sua própria galinha dos ovos de ouro piorando o clima de todos. Dados governamentais (IBGE) liberados nesta semana comprovam que 58% da contribuição brasileira para o efeito estufa vem de queimadas agrícolas e florestais. Conseguimos a façanha de produzir CO2 e subdesenvolvimento ao mesmo tempo.

Assim como o fogo, o Código Florestal, a redução do uso de agrotóxicos e a melhoria das condições de trabalho no campo (desde a escravatura), todas essas são bandeiras que visam à melhoria da agricultura a longo prazo, mas são recebidas com um chororô generalizado dos proprietários de terras. Se pelo menos fossem muitos, ao menos seria alguma água para nossos solos esturricados.

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