Batom na cueca da indústria de cosméticos

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Meu amigo Marcelo Jahnel, de Curitiba, é um contador de histórias. Apesar do que o título possa parecer, ele não passa o dia vestido de palhaço diante de um bando de crianças. Ele é um professor universitário de Estatística que percebeu que a mente humana funciona à base de histórias, não de conceitos. Faz centenas de milhares de anos que nos reunimos ao redor do fogo, diante da tevê ou do monitor para ouvir o que outras pessoas passaram. Eu também tenho usado o recurso em minhas aulas, mas ninguém tem contado histórias ou estórias melhor que Annie Leonard, a criadora de Story of Stuff. Eu posso denunciar que a manufatura de muitos objetos paga salários de fome enquanto degrada recursos naturais e termina servindo para nada no mundo desenvolvido, mas quando a mesma coisa é falada dentro de uma história bem ilustrada, engraçada e muito interessante, então ela tem milhões de visitas e só isso é capaz de dar o empurrão necessário para a mudança.

Se escrevo aqui que há agentes cancerígenos nos xampus de bebê, 99,9% dos leitores irão continuar a usá-los da mesma forma que sempre fizeram. Você precisa ver e fazer ver o filme Story of cosmetics e seu antecessor Story of stuff para sensibilizar-se.

Saber que há chumbo em boa parte dos batons é uma coisa, mas só uma boa história bem contada irá cumprir o objetivo de colocar a pulga atrás da sua orelha quando você for usá-lo.

Houve tempo em que colocávamos um desinfetante parente do álcool embaixo do braço para podermos passar um dia inteiro vendendo nossa força do trabalho sem cheirar muito mal. Você já prestou atenção no rótulo dos antiperspirantes? Trata-se de um metal em solução que tem a função de tapar seus poros, fazendo com que voce não transpire. Você realmente se sente mais seguro com um produto que faz com que você possa passar 48 horas sem tomar banho? Isso é desejável, afinal?

A indústria química não pode ser regulamentada pelo mesmo princípio da presunção de inocência usada para pessoas. Agentes químicos devem ser regulamentados pelo princípio da precaução e precisam todos ser testados por pesquisadores independentes.

A grande febre entre os industriais brasileiros hoje é tentar abocanhar um naco do mercado emergente, recém saído da classe D. Será que as matérias-primas desses cosméticos estão recebendo a devida atenção? Qual o benefício do uso desse monte de químicos?

Aguardem os desdobramentos dessa história depois que o pequeno vídeo de Annie Leonard for visto por milhões de pessoas.