Em março do ano passado lancei aqui o manifesto inaugural do movimento internacional dos apreciadores de ar. Desde então venho recebendo mensagens de pessoas que aqui e ali descobriram um ar especial. Também tenho feito minhas próprias descobertas.

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Nestes dias de chuva, tenho respirado um ar muito especial, acredite você, em São Paulo. No Horto Florestal e com uma garoa leve, é possível respirar um ar tão limpo que você consegue cheirar um carro passando. Se você nunca sentiu o cheiro de um carro é porque nunca respirou ar puro de verdade.

Também neste fim de ano respirei um outro ar incrível a 30 km longe da costa, bem na superfície da água, mas neste caso tinha um quezinho de silicone pela contaminação do tubo do snorkel.

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Além de respirar, tenho também estudado muito sobre restauração de recifes de coral para um livro novo. O filme Procuran­­do Nemo fez um bom trabalho de divulgar a diversidade desses ambientes, mas o mais fantástico é que a estrutura física dos corais, as "árvores" dessa floresta, são na verdade animais com consistência de pedra.

Talvez o único animal pequeno com se que pode matar uma pessoa. Você também pode matar uma mulher grávida se jogar uma barata voadora nela, mas esse é outro assunto.

Ainda mais estranho, esses animais não obtêm energia do alimento que ingerem, como fazem baratas voadoras e mulheres grávidas. Corais obtêm energia por fotossíntese. Há um tipo especial de alga dentro da estrutura de carbonato de cálcio que produz quase toda energia do coral, ou seja, esses animais vivem de luz solar e nutrientes, tal qual as plantas.

Grandes áreas de coral podem se degradar quando um navio encalha ou ancora ou quando são feitas obras, por exemplo, para passagem de cabos submarinos, e aí é preciso restaurá-los.

Até há poucos anos, só conseguíamos relocar corais. Não sabíamos como reproduzi-los. Essa relocação era feita nos casos de "corais de oportunidade" que são pequenos corais que se soltam e que iriam morrer se ficassem a mercê do balanço e correntes marítimas. Algumas ONGs organizam turmas de mergulhadores voluntários que recolhem esses corais e os fixam com cimento ou cola epóxi em locais degradados. O sucesso desse trabalho não se limita a geralmente boa sobrevivência dos corais, mas também à motivação ambiental das pessoas por participarem da reconstrução de um ambiente tão diverso e colorido.

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Corais têm hábitos reprodutivos curiosos. Espermatozoides e óvulos são lançados na água na lua nova, e daí ninguém é de ninguém, os óvulos são fertilizados e se tornam ovos. Recen­­temente descobrimos que esses ovos se aderem bem a pastilhas cerâmicas

Depois de crescer por 18 meses, as pastilhas são fixadas em sua residência final para continuar seu desenvolvimento.

O único aspecto positivo de toda essa destruição que estamos causando é aos poucos ir aprendendo a consertá-la e a dar valor para o que sempre tivemos, como ar limpo e corais sadios.