O que acontecerá agora que descobriu-se que as constelações não estavam onde os astrólogos pensavam? Alguém cairá em si que por centenas de anos nenhuma destas pessoas de turbante se deu ao trabalho de olhar para as constelações de que tanto falam? Alguém perceberá que, se afinal de contas, as pessoas eram de um signo e achavam que era de outro é porque na verdade tanto faz?
Talvez Parke Kunkle ingenuamente acredite que sua descoberta mudará algo. Eu não, porque dogmas não são dialéticos. Voltemos para o ambiente para eu explicar esta expressão digna de Jornada nas Estrelas.
Dogmas são verdades acima de discussão, coisas como a existência de Deus ou o time do coração, e há muito mais de dogma na vida das pessoas do que elas reconhecem. Quando quase mil pessoas morrem nas serras do Rio porque construíram suas casas ilegalmente, o bom senso diria que precisamos enrijecer a lei. Ser dialético é dialogar com a realidade.
Já o dogmático não quer saber. As pessoas morreram? Acabemos com o Código Florestal. O preço da soja está baixo? Acabemos com o Código Florestal. Precisamos competir com a China? Idem, idem, idem.
É inútil tentar convencer que no longo prazo o maior beneficiado pela melhoria do solo, água e combate de pragas seria a própria agricultura, quando o dogma é multiplicar 30 metros pela extensão do rio e pensar quantos dólares de soja são perdidos por ano.
Mas aqueles 30 metros melhoram a produtividade de todo campo! Os ruralistas querem acabar com o Código Florestal.
Se você ainda acha que esta é uma questão "que depende do ponto de vista", é só porque a mídia tem colocado em pé de igualdade pesquisadores com décadas de experiência e produtores rurais com interesses próprios e de curto prazo como Kátia Abreu.
O que ganha, por exemplo, o professor Gerd Sparovek da USP ao publicar estudo provando que há toda uma fronteira agrícola nas áreas degradadas pela agricultura? Seu salário não aumenta, ao contrário, ele dá a cara a bater por uma ideia. De toda forma, será difícil bater no "Dr. Comprido". Quem estudou com ele viu que desde tenra idade ele não se engana fácil.
Mostre-me um único pesquisador a favor da mudança do código que não seja proprietário de terras e eu próprio me tornarei um dogmático a favor de derrubar a floresta ripária para plantar soja.
A humanidade levou só 100 anos para livrar-se do flagelo milenar do escravagismo. Muito mais rápido hoje podemos nos livrar do pensamento antiambiental de curto prazo, mas para isso precisamos parar de ouvir aqueles que gritavam que a agricultura iria acabar sem os escravos, assim como seus bisnetos que repetem agora que a agricultura vai acabar se cuidarmos do ambiente do qual ela própria depende.
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