• Carregando...

Os destruidores praianos, por exemplo, certamente sabem da degradação ampla e extensa que sofrem todos os mares do planeta, mas não conseguem fazer com que esta informação reflita em alguma mudança em suas vidas

Ontem, correndo na praia, vi um grupo de pessoas jogando cerveja em uma estrela do mar. Logo depois havia outro grupo com um daqueles sifões de plástico, retirando os pobres seres rastejantes que tentam esconder-se afundando na areia. Depois de construir na beira do mar, aterrar mangues, poluir e iluminar praias, não deixamos nem as profundidades da areia em paz.

Fiquei com dúvidas se este esforço datilográfico semanal de tantos anos gerou algum fruto. Talvez prefira pensar que esses destruidores praianos, alguns mirins e outros seniores, provavelmente não eram leitores desta coluna. Falando nela, esta é a última coluna Ambiente por Inteiro na Gazeta do Povo, já que o jornal passará por uma reformulação para adequar-se aos novos tempos.

Inúmeros jornais ao redor do mundo estão no mesmo barco, tendo de adequar-se ao tempo da informação barata e acessível. Alguns estão conseguindo se manter: são os que perceberam que o jornal não serve mais para informar. Jornais agora formam, analisam e dão sentido a essa informação, que é tão barata e tão acessível que afoga.

Os destruidores praianos de ontem, por exemplo, certamente sabem da degradação ampla e extensa que sofrem todos os mares do planeta. Sabem sobre acidificação, destruição de manguezais e tudo o mais, mas não conseguem fazer com que esta informação reflita em alguma mudança em suas vidas.

Os jornais que cortarem custos e reduzirem seu tamanho visando a um público que lê cada vez menos estarão acelerando seu fim porque o papel nunca andará na velocidade da luz. É uma corrida perdida. Nem por isso o jornal é menos que a internet. O papel, no entanto, anda na velocidade da cabeça das pessoas, da capacidade normal de assimilação de um ser humano. Os veículos que estão se mantendo na era da internet são aqueles que, como o New York Times e a The Economist, oferecem não os fatos, mas uma visão deles. Mudaram, mas não diminuíram.

Para conseguir mudar o hábito daqueles destruidores praianos e dos seus inúmeros colegas, precisamos de mais análise, discussão e elaboração, e por isso a coluna continuará em seus outros canais. Agradeço os anos de audiência e credibilidade conferidas pela Gazeta do Povo e seguiremos tentando importunar nossos dois leitores. Se até o Super-Homem teve de deixar seu emprego no Planeta Diário, não seria este pobre digitador que teria um fim diferente...

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]