Mesmo o visionário mais brilhante do mundo não tem como saber quando está vivendo aquele momento mágico que mudaria o mundo. Darwin, Gorbachev e Bill Gates estão nesse time hoje, mas, como você e eu, um dia tiveram dúvida se o que tinham diante de si não seria só mesmo um exotismo irrelevante.

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Passei este 21/4 nos EUA, onde se comemora o Dia da Terra (a julgar pela quantidade de dias comemorativos ambientais, a coisa com a natureza deve estar preta). Na Universidade de Duke, bem embaixo do meu escritório, havia uma festa com toda sorte de barracas ambientais, incluindo a mais fantástica de todas, uma bicicleta em cima da qual se montou um liquidificador. Você pede o suco, eles põem no liquidificador e o próprio cliente propele a traquitana.

Os papas da energia irão dizer que trata-se de um brinquedo e "vamos seguir com a discussão séria sobre energia". Discordo. Quando tomamos um suco, não estamos só atrás de água e nutrientes. Se possível, queremos também uma experiência, contato humano, amizade. A bicicleta é tudo isso e é também economia de energia. Antes de ser o que é hoje, Google já foi uma brincadeira dentro de uma coisa estranha (internet).

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Será que aquela bicicleta não é o germe da tão aguardada revolução energética? Pelo exotismo da situação, não tem como as pessoas não rirem, comentarem sobre o assunto, conversarem. Um suco feito na bicicleta-liquidificador é uma experiência humana mais gratificante do que ter 4 mil amigos no Facebook. Da bicicleta-liquidificador poderíamos passar para um carregador universal de pequenos aparelhos eletrônicos, como telefones celulares e computadores. De uma hora para outra, o ramo de negócios de academias seria extinto, dando lugar a novas bicicletarias que, além dos equipamentos de sempre, venderiam também carregadores para toda sorte de equipamentos, criados participativamente em pequenas oficinas ao redor do mundo. Naturalmente, os equipamentos terão de ser menores e consumir menos se forem propelidos por bicicletas, mas isso já está acontecendo. Meu antigo desktop consumia 800 watts. Escrevo esta coluna em uma tabuleta que consome 5 watts, mas infelizmente ao fim da tarde ainda irei a uma academia desperdiçar energias suficientes para vários dias de funcionamento.

Há indicativos deste neo-artesanato em todos os lugares. Um site, por exemplo, está marcando ocorrências de javalis selvagens no Brasil. Cada um que vê um javali entra em contato e marca-se um ponto. Um levantamento que de outra forma seria caríssimo está sendo realizado a custo quase zero.

Quem sabe daqui a 20 anos não estaremos nos perguntado: "Quem diria teria começado com uma bicicleta-liquidificador?" Se você se interessou, veja a foto dela em meu blog em http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/