Imagino que meus dois leitores tenham vindo a este espaço buscar avidamente notícias sobre a última do Código Florestal. Infelizmente este não é o melhor lugar para isso, porque a coisa está borbulhando tanto que o jornal novinho pode já só servir para embrulhar peixe.

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Para evitar patinar na mesmice dos artigos "ponto de vista dos ruralistas" x "ponto de vista dos ambientalistas" falemos hoje do ponto de vista do Ouricuri, uma palmeira do Semi-Árido nordestino.

Todo texto sobre planta precisa ter seu nome cientifico, então vá lá Syagrus coronata. Se você não é botânico, essa informação é inútil para você.

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Sendo uma espécie nativa, há várias espécies de répteis que vivem nela. As cicatrizes das folhas que caem acumulam alguma matéria orgânica e ali vive um oásis de espécies no meio da caatinga, me conta minha amiga Flavia, professora da UFAL. Em Iracema, José de Alencar diz que essa palmeira abriga pássaros que cantam. Quem sabe, atraídos pelos animais e plantas que crescem ali?

Se você já está convencido que essa é uma planta da natureza, que os caras de sandália e barba adoram e os da enxada odeiam, então precisa continuar a ler.

O óleo do coco do ouricuri é muito bom para fazer sabão, exige menos soda.

Você gostaria de usar um sabão com menos soda? A casca do coco tem alto poder calórico, e ainda por cima emite pouco enxofre quando queima. O leite do coco é usado na culinária nordestina também e a folha e "caule" da palmeira são usados na construção civil.

O ouricuri é muito usado em consórcio com a agricultura de subsistência. Sua sombra e matéria orgânica fazem uma boa simbiose com plantas mais baixas, como feijão, milho e mandioca. Esses usos todos da planta são apontadas por José dos Anjos, da Embrapa Semi-Árido.

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O ouricuri tem muito a ensinar para os políticos decidindo o destino das florestas do país em Brasília. Se você tivesse que classificar, colocaria essa planta ao lado do Mico-Leão- Dou­rado ou da soja? Criamos um mundo partido, onde acreditamos que nossa comida seria produzida em algum lugar onde a natureza não entraria. Ao contrário, ela entra até mesmo no Con­gresso, nem que seja pela forma da bactéria Le­­gionella pneumophilla, que saiu do ar condicionado para os pulmões do ministro Sergio Motta, matando-o.

Que não paire dúvida sobre quem é quem nesta briga. Os pontos de vista de ruralistas e ambientalistas são antagônicos, mas não equivalentes.

Ruralistas estão lutando por benefícios individuais enquanto ambientalistas lutam por benefícios coletivos. Se ruralistas ganharem essa queda de braço no Congresso, terão seu lucro aumentado. Ambientalistas, ganhando, não terão benefício individual.