Se natural, sustentável e orgânico são sinônimos para você, está na hora de pensar um pouco mais atentamente.

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Você paga o triplo do preço em uma alface orgânica e acha que está fazendo bem para o mundo?

Ao comer um produto orgânico você está fazendo bem só para si próprio e para o produtor, pois nele não foram utilizados agrotóxicos. Para fazer bem para o resto da humanidade, esse produto precisa ser sustentável. Uma horta orgânica que, por exemplo, use quantidades excessivas de esterco e seja displicente com o manejo da água de irrigação, estará poluindo o lençol freático, desperdiçando água e não sendo sustentável, mesmo que possa estampar a palavra "orgânico" em sua embalagem bonita.

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Se você quer mesmo ser sustentável, use seu lixo de cozinha para plantar sua própria alface.

Há muitos produtos orgânicos que não são sustentáveis e vice-versa. Aquele palmito que você compra na beira da estrada, por exemplo: mais orgânico impossível. Cresceu no meio da floresta e nunca passou perto de agrotóxico. No entanto, o palmiteiro abre trilhas que depois servem para caçadores e grileiros. Você ainda acha que o palmito orgânico da estrada é sustentável?

Uma outra palavra que causa confusão, neste caso intencional, é reciclável. Reciclável é o que é possível de ser reciclado. É diferente de ser reciclado. No site da tetrapak, por exemplo, está escrito que o material é 100% reciclável, mas estamos longe disso. Se você acha que uma telha de tetrapak já foi caixinha de leite, está enganado. As telhas "ecológicas" são feitas de sobras de indústria. 100% das caixinhas de leites vão mesmo para o lixão.

É bom comprar uma blusa de algodão natural? Para quem usa é ótimo. No entanto, o algodão é uma cultura muito dependente de agrotóxicos e insumos agrícolas. O algodão beneficia quem o usa, mas prejudica todos os outros.

Muito mais positivo que comprar roupas de "algodão natural" é reciclar suas roupas. Se você aumentar o tempo de uso delas, não precisará pensar se o impacto ambiental do plantio de algodão é maior ou menor do que o polo petroquímico que fabrica a fibra artificial que está em quase todas as nossas roupas.

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A costureira que cerze roupas é mais sustentável que qualquer loja com incenso que vende saco de farinha de trigo a preço de roupa, mesmo não tendo tanto apelo. Não pega bem falar por aí que está usando uma calça reformada de 15 anos de idade. É muito melhor a marca que gasta milhões em marketing com florestas e rios e mantém a sweat shop (oficina suada) em algum lugar da Ásia, esta sim é legal!

E por fim, há a vertente mística do ambientalismo, que não é natural, orgânica ou sustentável. Se você acredita que um óleo possa inundar o ambiente com amor e harmonia, não está precisando rever seus conceitos. Está precisando ter algum.

Não há receita mágica para tornar-se mais sustentável, a não ser prestar muita atenção em todas as suas opções.