Quando ouço sobre "produtos sustentáveis", me lembro de um amigo agricultor orgânico que montou uma barraca na feirinha dos produtores no centro de Londrina, com uma grande placa PRODUTOS ORGÂNICOS. Fez sucesso, vendeu tudo e na semana seguinte todos os feirantes tinham uma placa igual. Todos querem seu produto mais atraente para o consumidor, e uma balela frequente é chamá-lo de sustentável, ecológico, verde ou ambiental.
O paraíso da balela verde são as camisetas e calças jeans, produtos voltados para o público mais jovem e frequentemente menos atento (os mais velhos são mais atentos, mas menos dispostos). Você pode comprar uma camiseta colorida de verde e com uma árvore estampada, mas o fato é que para produzir uma camiseta gasta-se 150 g de agrotóxico e 2.700 litros de água. O primeiro dado é da Universidade de Cornell e o segundo é da ONG Waterfootprint. E o algodão orgânico? Ele custa caro e as pessoas não gostam porque a fibra não é tão macia.
Só os lunáticos acham que o mercado deseja produtos ambientais. A linha Eco da Levis foi cancelada e o New York Times publicou artigo em janeiro mostrando que a recessão acabou com o mercado verde de roupas. O recado não é novidade. As pessoas só querem salvar o planeta depois que a própria pele esteja salva, esquecendo que a pele de todos depende do planeta.
Uma iniciativa promissora é o Better Cotton Initiative, que é uma organização composta por algumas das marcas internacionais de roupas para usar técnicas melhores de plantio de algodão. Algo como "vamos estimular os plantadores de algodão a fazer o que é ensinado a qualquer estudante de agronomia". Note que há tantos plantadores de algodão com práticas minimamente razoáveis que eles nem tentaram escolher. Não há produtores de algodão minimamente razoáveis nem para encher um micro-ônibus. A regra neste meio é um grande número de aplicações de agrotóxico, antes mesmo que haja evidência de pragas. É mais fácil aplicar de uma vez que ficar avaliando populações de pragas.
Não espere que a Better Cotton Initiave, o pouco algodão orgânico ou até mesmo as camisetas feitas de garrafas PET resolvam o problema. Estas, então, são particularmente indulgentes ao atribuir algo de bom às 565 mil toneladas de PET que o Brasil consumiu em 2010.
Não há produto ambientalmente correto. O único produto realmente correto é aquele que você não comprou. Qualquer outro gastou água, agrotóxicos, queimou combustível ou extinguiu espécies.
Se o produto chegou à prateleira da loja, o impacto já não ocorreu, que adianta não comprá-lo? O comércio anda à base de substituição. Se você não tirar a camiseta da prateleira, outra não entrará no lugar. Isso é que é ambientalmente correto.
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