Conservacionistas gostam de falar muito, divulgar causas e viajar bastante para falar mais ainda.
Ainda não caiu a ficha de que a tática não adianta muito. As pessoas gostam de ouvir aquilo que reforça suas crenças anteriores. Só estão nos ouvindo, mesmo, aqueles que já concordavam conosco. Essa falha mais que humana é ainda piorada pelos filtros e engenhos de busca da internet que nos põem em contato com pessoas iguais a nós, mesmo que seja do outro lado do mundo, um problema que Eli Pariser aponta em seu livro The Filter Bubble: What the internet is hiring from you, recentemente lançado na Inglaterra.
John Francis tem uma sugestão para esse problema: falarmos menos. Aos 27 anos ele ficou um dia sem falar e isso acabou se transformando em 17 anos de silêncio. Por todo esse tempo ele também ficou sem usar transporte motorizado em função de uma colisão entre dois navios petroleiros na Baía de São Francisco nos anos 70.
É difícil para as pessoas compreenderem como parar de falar pode melhorar a comunicação, mas descobri que a forma como você vive pode ser uma comunicação melhor do que a forma como você diz que vive, disse John.
A cacofonia que vivemos degrada a comunicação. O excesso de vozes termina fazendo com que todas se igualem por baixo. Não ouvimos nenhuma delas.
Segundo ele, ninguém sai igual de uma experiência com uma pessoa que não fala e não anda de carro. Em uma ocasião, por exemplo, ele sofreu um acidente com sua bicicleta e não aceitou ser levado de ambulância para o hospital. Quantas vezes a motorista deve ter contado essa história para seus conhecidos?
Pode parecer meio esquisito a princípio, mas muito do que se chama de consumismo hoje é essencialmente isolamento pessoal. O carro, a casa grande, a conexão de banda larga. John teve a oportunidade de encontrar as pessoas fora desse contexto e sem até mesmo a armadura da fala e por isso entrou realmente em contato com elas. E foram muitas, porque ele foi de uma costa a outra dos EUA, passando por boa parte da América do Sul.
A restauração ambiental passa pela restauração social. Estamos todos cegos procurando o que necessitamos nos lugares errados, totalmente errados. Nossas respostas não estão nas casas e carros grandes, mas no silêncio e na comunicação de qualidade.
"Seja a mudança que você deseja" é uma frase que tem perdido sua força pela quantidade de vezes que é repetida. Talvez seja o caso de pararmos também de falar nela para que ela seja mais ouvida.
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