Desde David Ricardo e do século 18, que percebemos as vantagens da divisão do trabalho. A regra hoje é preocupar-se com uma partezinha bem pequena da realidade e delegar o resto, muitas vezes delargar.
Fazemos isso com quase tudo em nossa vida, até mesmo nosso lado altruísta é terceirizado. De acordo com a tese de David Ricardo, poderia até funcionar. As pessoas são mais eficientes em seu próprio ramo de atuação. Então elas doariam parte do dinheiro que ganham eficientemente para ONGs de todo tipo, que também eficientemente cumpririam suas metas. O problema da vantagem comparativa de David Ricardo é esquecer que às vezes a estrutura se torna tão grande que esquece a missão e passa ter como objetivo manter-se.
Supermercados de todo o mundo receberão nos próximos meses produtos rotulados como "Sustentável" e "Responsável". A chancela é dada pelo WWF, Conservation International e Nature Conservancy, entre as maiores ONGs ambientais hoje. São as chamadas "mesas-redondas de produtos responsáveis", que do lado do agrobusiness incluem Monsanto, Cargill, Nestlé, BP entre outras 98 empresas.
A coisa tem um certo apelo em sua superfície. As ONGs chancelam, o agribusiness se adequa e o consumidor em tese teria um produto melhor à disposição, mas o diabo mora nos detalhes. Veja em meu blog http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/ os links para ler os documentos dessa coalizão.
Os termos empregados pela coalizão da mesa redonda são amplos e genéricos. No caso da soja, por exemplo, a seção 4.2 fala em "Minimização da poluição e gestão responsável dos resíduos de produção". Ignoro o significado preciso dessas expressões. Não é possível saber o que fazer em uma unidade de produção rural com termos como esse, porque gestão responsável é uma coisa para você e outra para mim.
Também não haverá fiscalização externa, nem do produto, nem das unidades de produção. Resumindo: As ONGs estão emprestando sua reputação em troca de muito pouco compromisso por parte do agribusiness.
Apesar de estar mais do que na hora para uma coalizão entre ambientalistas e agrobusiness em nível mundial, não é produtivo fechar um contrato com termos tão abertos. Depois um vai achar caro, o outro barato demais e uma rara oportunidade de construir uma ponte terá sido demolida.
Não há saída para o consumidor a não ser prestar muita atenção em todas suas escolhas. Se você quer conhecer o impacto associado à sua alimentação tem de olhar para cada um dos itens, saber o que é, de onde vem para então tomar decisões informadas.
Não há no mundo instituição com patrimônio moral para terceirizar suas decisões.
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