É difícil explicar para os estrangeiros que algumas notícias em nosso pais significam o exato oposto do que dizem. Em março de 2009, saiu a decisão judicial de demarcar as áreas indígenas de maneira contínua em Roraima. Recebi mensagens em inglês, uma delas dizendo "Os caras bonzinhos marcaram um ponto hoje". Tentei explicar que provavelmente não seria bem assim. De fato, assentada a poeira, na semana passada veio a decisão do STF de rediscutir algumas posses da área.
Também recentemente saiu a licença ambiental prévia de Belo Monte, que está na pauta desde 1980 mas nunca emplacou. Não recebi e-mail algum sobre o assunto, mas deveria, porque esta é para valer.
Como ensinar um estrangeiro a identificar quais notícias devem ser interpretadas com um não na frente? Basta saber que no final ganha sempre o lado em menor número. Às vezes, a coisa pode até dar uma volta, fazer uma firula e no processo ajudar a mídia a vender alguns anúncios.
No caso de Belo Monte, temos algumas construtoras de um lado junto com o governo querendo os lucros gordos da terceira maior hidrelétrica do mundo. No outro lado temos 190 milhões de brasileiros proprietários do Rio Xingu que lucrariam muito mais com a modernização das usinas existentes e mecanismos de uso racional da energia. Agora você já sabe dizer quem vai ganhar no final.
O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, já está ameaçando os procuradores que levantarem qualquer suspeita contra Belo Monte. Está é a única obra do mundo que mesmo antes de ocorrer já se sabe que não terá problemas. É perfeitamente planejada, não será superfaturada, não terá propinas para caixa de campanha e todas condicionantes ambientais serão implementadas.
Desculpe lembrar das condicionantes ambientais, dr. Luís Inácio. Elas sempre são o cala-boca do projeto e o "Assim vocês vão inviabilizar a execução" de logo depois. Elas são para inglês ver.
Também gostaria de lembrar que não há como saber que serão gastos cerca de R$ 1,5 bilhão com a mitigação ambiental, como foi amplamente divulgado, se ninguém sabe direito o que deve ser feito. A construtora que ganhar o leilão deverá apresentar um plano ambiental. É mais ou menos como pedir um plano de segurança do galinheiro para a raposa.
Para conseguir esta licença, o executivo precisou trocar muita gente na estrutura do Ministério do Meio Ambiente (a começar pela ministra Marina Silva, seguida pelo segundo escalão do Ibama). Precisou também gritar e ameaçar os que ficaram. Ele conseguiu. Mas será que leva?
Será que os procuradores deste país aceitarão quietos a mordaça imposta pelo Executivo?
Será que os cidadãos aguentarão quietos o governo fazer a coisa errada em benefício próprio?
Será que sempre poucos donos terão vantagem sobre muitos?
Vejam a conclusão deste drama no próximo segmento e agora aos nossos comerciais...
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