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Resistirei às pressões para falar sobre eleições. Entre outros, meu trabalho é criar neoambientalistas e por isso os reconheço de longe, mesmo entre os de mais idade.

Falando em resistir a pressões, ou seu exato oposto, as duas grandes perguntas sobre o derramamento de óleo no Golfo do México permanecem sem resposta: quanto óleo foi derramado? Para onde ele foi?

Talvez os mais entusiastas do Tio Sam imaginem um exército de pesquisadores de várias universidades cooperando entre si, British Petroleum (BP) e governo para entender o que aconteceu, gerando conhecimento para a restauração do Golfo e para outros eventos, mas a realidade é diferente.

A situação real do Golfo do México é desconhecida porque os pesquisadores que poderiam ajudar a compreendê-la estão impedidos de entrar na área a menos que se comprometam a entregar seus dados para o governo. A entomóloga Linda Hooper Bui teve seus dados recolhidos por funcionários do Depar­­tamento de Defesa dos Estados Unidos.

Há duas razões possíveis para tanta segurança. A mais visível é que o governo receie que pesquisadores de instituições sérias, mas "pressionados" pela BP, coletem dados na área e maquiem a realidade visando à redução da multa. Infelizmente há intersecção entre instituições de pesquisa reconhecidas e corrupção. A razão menos visível é que BP e governo estejam juntos tentando convencer que o derramamento não passou de "marolinha". A BP por motivos óbvios e o governo para evitar a pecha de ter sido leniente com a economia da BP com segurança.

No Brasil a história não foi diferente. A área da refinaria de Araucária onde a Petrobras teria derramado 4 milhões de litros de óleo cru (o único dado disponível é da própria Petrobras) é até hoje cercada de mistério. A empresa já chegou a afirmar que sua metodologia é tão bem-sucedida que a estaria vendendo para outros países. Só se for para outros países, porque nesse nosso por duas vezes não consegui entrar na área. Só são permitidos pesquisadores "associados" à Petrobras.

Em ambos casos o mérito recai em micro-organismos que tem a capacidade de degradar petróleo, que afinal de contas é uma fonte potente de energia, um alimento nutritivo para os que não se intoxicam com ele. Mas quanto óleo os micro-organismos conseguem engolir? Terry Razen, da Uni­­versidade de Stanford, publicou um artigo há duas semanas na revista Science sobre o potencial desses micro-organismos para digerir petróleo.

Stanford e Science são nomes dos mais reconhecidos no meio científico. No entanto, a universidade de Stanford recebeu 500 milhões de dólares da BP nos últimos dez anos. Isso é pressão suficiente para você?

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