O glifosato foi inventado nos anos 70 e uma década depois foram criadas plantas transgênicas que possuem resistência a este herbicida, possibilitando aplicá-lo já com a cultura crescida, matando as erva daninhas mas não a cultura.
Assim como em toda química aplicada à agricultura, a história contada até a metade é linda. Os cancerígenos inseticidas organoclorados, por exemplo, na década de 40, prometiam uma agricultura sem pragas. Só depois fomos conhecer a segunda metade da história.
A segunda metade da história é que aplicada em grandes áreas, o glifosato passa a ser uma intensa pressão seletiva. Ou seja; os poucos indivíduos resistentes passam a dominar a população e depois de algum tempo a resistência se espalhou pela população. É a história dos antibióticos e das infecções hospitalares agora repetida na fazenda. (Veja uma lista das ervas resistentes em todo o mundo em meu blog http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com.br/)
Ainda pior, enquanto este processo ocorre, muitos produtores são tentados a usar herbicidas mais fortes, no que serão auxiliados pela própria industria agroquímica.
Há semanas venho recebendo notícias que a Dow estaria tentando certificar uma variedade transgênica de milho resistente a 2,4 D, o famoso agente laranja que causou inúmeros casos de câncer entre soldados norte-americanos na guerra do Vietnã. Achei que fosse um mito da internet porque não deu na grande imprensa (talvez porque a indústria agroquímica é uma grande anunciante), mas principalmente não acreditei que uma industria quereria associar o termo 2,4D à sua marca nos dias de hoje. Só acreditei quando li a petição da empresa no site do Ministério da Agricultura nos EUA.
Conforme fomos aprendendo um pouco de toxicologia ambiental na segunda metade do século 20, conseguimos nos livrar dos casos mais flagrantes de contaminação, mas aqueles que envolvem efeitos crônicos, de longo prazo ainda são difíceis de perceber. Um grupo de inseticidas chamado de neonicotinoides (sim, a mesma nicotina do cigarro) foi descoberto nesta semana como a causa do colapso de colmeias de abelhas que ocorre no mundo inteiro. Como se trata de um efeito crônico, a causa real demorou a aparecer, mas está na revista Science desta semana.
A mensagem geral é que a natureza não aceita atalhos. Desde a Roma Antiga que conhecemos as técnicas de rotação de culturas, aplicação e manejo de matéria orgânica e seleção in-situ de variedade adaptadas. Esses caminhos levam a Roma, mas os atalhos levam a lugar algum.
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