Ocorreu na terça-feira, dia 9, a primeira das eleições primárias nos Estados Unidos. Cerca de 500 mil eleitores do estado de New Hampshire foram às urnas para escolher o representante de seu partido que concorrerá à presidência no fim deste ano. Pouco antes desta primária houve o caucus de Iowa, um evento que não tem equivalente próximo – e nem distante – no Brasil. O caucus é o exemplo máximo da democracia americana: eleitores se reúnem em diversos locais para debater entre si as candidaturas disponíveis, sem mortadela nem qualquer outro tipo de gratificação, e depois votam para eleger os delegados do partido que participarão do processo de nomeação do candidato à presidência. Até o dia da nomeação por republicanos e democratas, outros caucuses e outras primárias ocorrerão, em estados e circunstâncias diferentes. A conquista da nomeação pelo partido é, assim, uma maratona em que cada candidato precisa se sair bem no geral e brilhar nos estados onde tem mais força ou mais recursos.

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A diferença entre a democracia americana e a nossa é gritante. Antes de mais nada, os americanos estão acostumados a eleições muito mais frequentes e abrangentes do que os brasileiros. Eles elegem seus vereadores, prefeitos, xerifes, promotores de Justiça, deputados estaduais, senadores estaduais, governadores, deputados federais e senadores federais. A participação da população nos assuntos locais é forte e constante, e o sistema distrital de votos aproxima o eleitor de seu representante e torna as campanhas em nível estadual e federal muito mais lógicas e conectadas com a realidade das pessoas.

A diferença entre a democracia americana e a nossa é gritante

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Como menciono em meu primeiro livro, a festa de democracia brasileira está mais para piada de mau gosto. Você é obrigado a votar, o número de candidatos é extremamente alto e, nas eleições para cargos legislativos, a regra de proporcionalidade faz com que seu voto seja usado pelo partido para eleger outros candidatos, muitas vezes com plataformas e propostas diametralmente opostas às de quem você escolheu. Quem não se lembra das eleições de 2008, em que Jean Wyllys foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro com menos votos que um vereador local? Ele foi levado a reboque do puxador de votos de seu partido e tornou-se uma aberração representativa. Outros candidatos com votação uma dezena de vezes maior ficaram de fora daquela legislatura e seus eleitores foram tapeados por uma regra intrincada e sem sentido.

O processo de escolha de candidatos também fica muito aquém do ideal de uma democracia representativa. São as convenções partidárias que decidem os candidatos, e quem dá o tom nessas reuniões são os caciques políticos, e não a população ou os filiados. A política brasileira é predominantemente uma política de caciques, de uma minoria que já adquiriu poder suficiente para domar as instituições partidárias e o sistema eleitoral em seu favor. Nem com a mais míope das visões seria possível chamar algo assim de processo democrático. É, na melhor das hipóteses, a democracia para inglês ver.

Por mais que os democratas queiram transformar os Estados Unidos num Brasil, tentando legalizar imigrantes a baciadas para aumentar seu curral eleitoral, propondo mudanças absurdas como a obrigatoriedade do voto e fazendo campanhas com níveis patológicos de mentiras, a estrutura política criada pelos fundadores da nação ainda mostra resiliência. Quando o próximo presidente americano tomar posse, no dia 20 de janeiro de 2017, saberemos se o legado de homens como John Adams, Benjamin Franklin, Alexander Hamilton, Thomas Jefferson e George Washington terá sobrevivido, e se a América poderá continuar a ser um farol de liberdade e uma inspiração para o restante do mundo.