| Foto: Mandel Ngan/AFP

Quando eu soube que Steve Bannon – estrategista-chefe da Casa Branca – carregava fortes influências do livro The Fourth Turning (ainda sem tradução para o português) em seus conselhos ao presidente Trump, entendi que seria bastante importante ler essa obra, e imediatamente me pus a fazê-lo.

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O livro, escrito por William Strauss e Neil Howe, apresenta a interessante tese de que a história moderna acontece em ciclos, e que alguém bem treinado a observar o ciclo atual é capaz de antever a direção para a qual uma determinada sociedade está se movendo. Os autores falam mais especificamente da história americana, mas deixam claro que as tendências de globalização têm tornado os ciclos históricos cada vez mais abrangentes.

A obra começa com explicações sobre as diferentes percepções do tempo em diferentes épocas. No passado mais remoto, lá na Pré-História, o homem achava que o tempo era algo caótico, sem padrões ou repetições. Bastou um pouco de evolução para que a percepção mudasse para o conceito de tempo cíclico: estações, fases da lua, marés, mapas das estrelas, tudo se repetindo cíclica e infinitamente. Mais recentemente, especialmente após a chegada dos ideais iluministas, o homem adquiriu a noção equivocada de que o tempo é linear, ou seja, de que as coisas não se repetem e que cada novo dia é um novo tempo a ser criado por nós.

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Os Estados Unidos da América são, desde sua criação, a nação do tempo linear

Os Estados Unidos da América são, desde sua criação, a nação do tempo linear. Em nenhum outro lugar do mundo essa noção foi tão incorporada por seus cidadãos, ainda que todo o mundo ocidental compartilhe grande parte desse modo de pensar. Mas, de acordo com os autores, o universo é intrinsecamente cíclico, e nosso pensamento moderno de linearidade temporal acaba criando um efeito condensador no processo de repetição da história. É mais ou menos assim: se a natureza impõe seus ciclos e nós reiteradamente os ignoramos com nossa percepção linear, esses ciclos nos serão impostos em “pacotes” mais espaçados, porém mais densos. Assim, podemos viver acreditando que estamos criando uma nova história a cada dia, mas, ao observarmos a história de uma perspectiva mais afastada, veremos que estamos nos repetindo a cada 80 a 100 anos.

A sequência do livro descreve primeiramente o conceito de saeculum, o período de vida da pessoa mais duradoura de uma geração, e os quatro períodos (ou “viradas”, que seria a tradução direta de turning) que ocorrem dentro desse tempo. Todo saeculum começa com um período de Alta, que é seguido por um período de Despertamento; em seguida vem um período de Desvendamento, e por último um período de Crise. A Crise fecha o saeculum e muda completamente o statu quo da sociedade em questão. Em conjunto com os quatro períodos distintos, os autores identificam também quatro tipos de gerações, de acordo com o período em que cada uma nasceu. A análise da ocupação de posições importantes na sociedade por diferentes gerações em diferentes períodos é o ponto alto do livro, pois é justamente ela que define o caráter preditivo da obra.

A importância desse livro está justamente no fato de que Steve Bannon o leu e acredita piamente que Donald Trump será o presidente dos Estados Unidos quando o próximo período de crise chegar. A última crise terminou com a Segunda Guerra Mundial, evento que mudou completamente o mundo. Para enfrentar a próxima, Bannon buscou no modelo dos autores uma maneira de preparar o presidente dos Estados Unidos para conduzir o país de forma vencedora. Após ter lido o livro todo, posso dizer que é uma obra surpreendente. As análises são bem interessantes e até certo ponto assustadoras, no sentido de que mostram o quão repetitivos nós somos como humanidade. E, assim como o homem que está prestes a enfrentar o inverno a chegar, nossas memórias mais recentes são do último verão. A estação que se aproxima é sempre aquela que já foi há mais tempo. Exemplificando, a geração que lutou a última grande guerra faria de tudo para evitar uma próxima; a geração seguinte, que era criança durante a crise, também tem lembranças suficientes para querer evitar algo igual a todo custo; a geração seguinte, que só ouviu as histórias de seus avós, já não se preocupa tanto; e a próxima geração, já sem contato algum com aquele passado, acha que uma nova guerra é tudo do que precisamos.

Com tudo o que anda acontecendo no mundo, especialmente na Coreia do Norte, Rússia, Síria e Irã, fico um pouco mais tranquilo em saber que o estrategista-chefe da maior potência do mundo está entendendo a história de uma perspectiva mais abrangente que a dessa turminha do mal. Na hora em que a próxima crise bater, a última coisa de que precisamos é um desorientado qualquer comandando o maior exército do planeta.

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