Fico sabendo de um colega que acaba de voltar de Cuba. Suas palavras: “Não dá para descrever muito bem o que vi. Não tive coragem de fotografar a casa deles porque era algo degradante demais. Um animal de zoológico tem uma vida mais digna, com certeza”. A experiência parece tê-lo marcado para o resto da vida. Ele resolveu não ficar apenas na área turística de Havana – foi ver como vivem os cubanos de verdade, algo muito diferente do que nossa esquerda festiva prega por aí. E essa história está longe de ser um caso isolado ou único. O escritor Patrick Symmes publicou, em 2010, um relato detalhado, impressionante e desolador sobre os 30 dias em que viveu como um cubano. Letters From Havana – Thirty Days as a Cuban é uma história que convida ao choro e à revolta.
A Cuba de Fidel é essa. É a Cuba dos paupérrimos, dos famintos, dos assassinados, dos escravos, das adolescentes prostitutas e dos presos políticos – uma ilha da qual se foge, mas para a qual ninguém quer fugir. É a Cuba dos quase 6 mil fuzilamentos ordenados pelo regime castrista. É a Cuba de um povo miserável que viveu 49 anos sob a mão cruel de um ditador multimilionário.
Como é difícil para a esquerda reconhecer seus erros
Diante de um regime como esse, que só fez por destruir o país e escravizar seu povo, qual é o sentido de se enviar um representante oficial ao velório de Fidel Castro? A que ponto chegou a falta de coragem dos “estadistas” de hoje, para que não se constranjam em participar desse ritual macabro, uma homenagem a um dos homens mais diabólicos que já pisou neste mundo?
No Brasil, nossos políticos não deixaram por menos. Aécio Neves chamou Fidel de “grande líder” e de “afável no trato e eloquente, (...) que deixa o legado do sonho por uma sociedade igualitária”. Renan Calheiros lamentou sua morte e disse que ele “marcou a história mundial” e que “posições políticas diferentes, desde que respeitados os valores democráticos, contribuem para enriquecer nossa história”. Fernando Henrique Cardoso disse que Fidel simbolizava a luta dos pequenos contra os poderosos. Lula disse que perdê-lo foi como perder um irmão. Rodrigo Maia disse que é preciso reconhecer a importância de Fidel para o povo de Cuba.
Enquanto isso, todos os que se compadecem do povo cubano e que sonham com um pouco de justiça neste planeta esperavam por uma declaração como a de Donald Trump, que chamou Fidel de “ditador brutal que oprimiu seu povo por quase seis décadas”, cujo legado compõe-se de “pelotões de fuzilamento, roubos, sofrimentos inimagináveis, pobreza e negação dos direitos humanos”.
Como é difícil para a esquerda reconhecer seus erros. Mesmo diante de uma realidade bem conhecida e documentada, insiste em tentar disfarçar a feiura de suas crias, protegendo assassinos e louvando ditadores. Pouco lhe importa a tragédia de um povo, desde que seja preservada a narrativa utópica da busca pela igualdade e da revolução do proletariado contra a burguesia. O proletariado tem de se virar com meio ovo por dia? Tudo bem. O trabalhador tem de viver com US$ 15 por mês? Não tem problema. O governante magnânimo está na lista dos homens mais ricos do mundo? Não importa. Afinal, esse homem santo lutou contra os ianques e libertou sua nação do imperialismo americano. Salve, Fidel.
Eu prefiro viver na realidade e ficar em paz com a morte de alguém tão desprezível assim. O meu planeta amanheceu melhor no dia seguinte à morte de Fidel. Os meus amigos de ascendência cubana também pensam dessa maneira, e seus pais viveram a desgraça do castrismo na pele. Estão todos felizes e comemorando.
Adeus, Fidel. Já foi tarde demais.
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