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Francisco Borba

Defensores cegos

O deputado Eduardo Cunha, ao declarar que nenhum projeto sobre aborto seria debatido enquanto ele fosse presidente da Câmara, iniciou mais um round numa luta que parece interminável.

Neste round, uma frase, repetida à exaustão, me chamou a atenção: legalizar o aborto significa que o Estado reconhece que as mulheres são pessoas e não porta-fetos. Quantas mulheres se sentirão representadas nesta frase, que apresenta as responsabilidades da gravidez e seus direitos da mulher como antagônicos?

A frase lembrou-me outra, que dizia que uma mulher que portasse um feto anencéfalo não podia ter seu corpo transformado num caixão. Muitas se sentiram ofendidas com a comparação. Na ânsia por criar frases de efeito em defesa da própria posição, acaba-se por agredir as próprias pessoas que se quer defender.

Há alguns anos, ao ser entrevistada, uma diretora, que fez um documentário tocante em defesa do aborto, disse que seu filme era sobre as mulheres que abortavam e não sobre seus fetos. Mas a mulher grávida e seu feto estão inexoravelmente unidos, não é possível olhar globalmente para uma sem ver o outro.

Sou – como já devem ter percebido – contrário à legalização do aborto, mas tampouco fiquei contente com a declaração de Eduardo Cunha. Ficaria mais feliz se ele dissesse que em seu mandato lutaria por políticas públicas que protejam a mulher grávida e seu filho – sem assistencialismos e paternalismos, mas com uma presença atuante e responsável do Estado diante do problema.

Em todos esses casos sinto-me diante de defensores cegos às dificuldades e desejos mais profundos daquelas pessoas a quem querem defender. Mulheres grávidas e fetos inesperados tornam-se mais bandeiras políticas a serem brandidas que pessoas reais em situação difícil. É como se uma lei, a favor ou contra, pudesse resolver um drama humano. A questão não é o aborto, mas sim a gravidez inesperada – um sonho de muitas pessoas que se tornou pesadelo para algumas.

Diante desse problema, a primeira coisa a se fazer é prestar uma solidariedade integral à mãe e ao feto, pois são dois seres em dificuldade. Antes de se debater "aborto sim ou não", deve-se garantir que qualquer grávida tenha as condições de ter seu filho e que ambos possam se realizar, mesmo que com dificuldades, pois a vida é cheia delas.

Você conhece gente que dá esse apoio a mulheres grávidas? Eu conheço. E confesso que não teria coragem de escrever estas linhas se não tivesse a experiência dessas pessoas e das mulheres que elas acompanham diante de meus olhos.

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