O deputado Eduardo Cunha, ao declarar que nenhum projeto sobre aborto seria debatido enquanto ele fosse presidente da Câmara, iniciou mais um round numa luta que parece interminável.

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Neste round, uma frase, repetida à exaustão, me chamou a atenção: legalizar o aborto significa que o Estado reconhece que as mulheres são pessoas e não porta-fetos. Quantas mulheres se sentirão representadas nesta frase, que apresenta as responsabilidades da gravidez e seus direitos da mulher como antagônicos?

A frase lembrou-me outra, que dizia que uma mulher que portasse um feto anencéfalo não podia ter seu corpo transformado num caixão. Muitas se sentiram ofendidas com a comparação. Na ânsia por criar frases de efeito em defesa da própria posição, acaba-se por agredir as próprias pessoas que se quer defender.

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Há alguns anos, ao ser entrevistada, uma diretora, que fez um documentário tocante em defesa do aborto, disse que seu filme era sobre as mulheres que abortavam e não sobre seus fetos. Mas a mulher grávida e seu feto estão inexoravelmente unidos, não é possível olhar globalmente para uma sem ver o outro.

Sou – como já devem ter percebido – contrário à legalização do aborto, mas tampouco fiquei contente com a declaração de Eduardo Cunha. Ficaria mais feliz se ele dissesse que em seu mandato lutaria por políticas públicas que protejam a mulher grávida e seu filho – sem assistencialismos e paternalismos, mas com uma presença atuante e responsável do Estado diante do problema.

Em todos esses casos sinto-me diante de defensores cegos às dificuldades e desejos mais profundos daquelas pessoas a quem querem defender. Mulheres grávidas e fetos inesperados tornam-se mais bandeiras políticas a serem brandidas que pessoas reais em situação difícil. É como se uma lei, a favor ou contra, pudesse resolver um drama humano. A questão não é o aborto, mas sim a gravidez inesperada – um sonho de muitas pessoas que se tornou pesadelo para algumas.

Diante desse problema, a primeira coisa a se fazer é prestar uma solidariedade integral à mãe e ao feto, pois são dois seres em dificuldade. Antes de se debater "aborto sim ou não", deve-se garantir que qualquer grávida tenha as condições de ter seu filho e que ambos possam se realizar, mesmo que com dificuldades, pois a vida é cheia delas.

Você conhece gente que dá esse apoio a mulheres grávidas? Eu conheço. E confesso que não teria coragem de escrever estas linhas se não tivesse a experiência dessas pessoas e das mulheres que elas acompanham diante de meus olhos.

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