Nas últimas semanas venho apresentando amostras do estado de calamidade em que se encontra a cultura, não apenas brasileira. Outras tantas poderia destacar, mas o já exposto é suficiente a retratar essa situação que ultrapassou o estágio de confusão, estando, como disse no último artigo, em fase avançada de insanidade. E estou sendo preciso aqui, não hiperbólico.
Embora “cultura” seja um termo polissêmico, ou seja, possuindo significados diversos, há muito tempo tem sido considerada sob um único viés, com caráter antropológico e sociológico. Seria cultura todo o conjunto de modos de vida e objetos criados, adquiridos e transmitidos de uma geração para outra, dentre os membros de uma determinada sociedade. Nesse sentido, pouco importa o valor desses objetos e modos de vida, interessa apenas se são característicos de determinada sociedade.
Por que índios podem matar crianças e presidiários não podem estuprar criminosos?
Ou seja, e por exemplo, faz parte do modo de vida de muitas tribos indígenas o infanticídio de crianças nascidas com alguma deficiência física, como entre os ianomâmis, sendo descartadas assim que nascem. Ainda que isso possa horrorizar quem não faça parte da tribo, tal ato não poderia deixar de ser considerado cultura por esse critério; afinal, assim eles vivem desde sempre. O mesmo raciocínio pode ser aplicado para defender a “cultura do estupro”. Afinal, se é cultura, por que não deveria ser aceita, tal qual os infanticídios indígenas?
Aliás, poderíamos proteger o “direito” dos condenados a estuprar os estupradores nas prisões. Ué, não é parte da cultura carcerária assim tratá-los? Por que índios podem matar crianças e presidiários não podem estuprar criminosos? Então, é só copiar o projeto de lei do deputado Chico Alencar, da extrema-esquerda do PSol-RJ, que considera o funk como “forma de manifestação popular, e, enquanto tal, digna do cuidado e proteção por parte do poder público”. Se estupro é cultura, também é uma forma de manifestação popular, não é mesmo?
Até a justificativa do projeto pode ser copiada. É só fazer algumas pequenas alterações. Quando se diz ser o funk um “bem cultural” para a “população jovem”, por ser “tão importante para sua vida, sua história e seu modo peculiar de inserção na sociedade contemporânea”, é só trocar “funk” por “estupro” e “jovem” por “carcerária” e voilà! Também vale usar o parecer do relator do projeto na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, o deputado Jean Wyllys, do mesmo partido de extrema-esquerda. Leia e confira se os estupradores não podem usar o mesmo raciocínio em sua defesa:
“A noção de cultura defendida pela Antropologia e pelos Estudos Culturais, que é a noção de cultura como modo integral de vida, é a que deve ser evocada para reconhecer o funk como manifestação cultural e livrá-lo dos preconceitos das elites culturais que fazem distinções e hierarquias culturais para sustentar e justificar privilégios”.
Troque “funk” por “estupro” e tente justificar seu preconceito agora.
Enfim, espero que sua consciência esteja alertando não parecer certo aceitar e proteger infanticídio e estupro, caro leitor culto, pois isso significa que a confusão cultural em que estamos mergulhados ainda não afogou sua alma. O problema, é claro, está em tomar cultura tão somente por esse viés antropológico e sociológico, sem qualquer valoração. E quando chegamos ao ponto de querer proteger e incentivar, por lei, fenômenos culturais que mais contribuem a uma cultura do estupro do que a combatem, é exagero chamar de insanidade?
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