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Francisco Escorsim

A esquerda rejeitada

 | Ricardo Stuckert/Instituto Lula
(Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Lulla (ele fez por merecer esse segundo “l”), logo depois de votar no dia 2, saiu-se com esta: “O PT sobrevive aparecendo em todas as pesquisas como a legenda preferida do eleitorado brasileiro. O fato de o PT ter o dobro da preferência que têm os tucanos, ter o dobro do que tem o PMDB, mesmo nesta crise, demonstra que se enganam aqueles que pensam que podem acabar com o PT atacando só uma personalidade. O PT são milhões que vivem no anonimato nesse país trabalhando nos diferentes lugares. Acho que o PT vai surpreender nesta eleição”.

É, Lulla, não sei se desta você se levanta, não. O PT surpreendeu mesmo, mas o dobro da preferência foi para outros. O partido da estrela vermelha teve 60% menos votos do que em 2012, em todo o país. Nunca antes na história universal um partido caiu tanto. Deve entrar para o Guinness Book, desconfio. De provável maior partido do Brasil para se tornar menor que o DEM. Que fase. Nada pode ser mais humilhante. Ou pode?

A esquerda vem perdendo para si, não para a direita. E a rejeição veio das ruas, não da política

Yes, they can. O PT saiu tão pequeno que está bem perto de se tornar linha auxiliar da sua linha auxiliar, o PSol. Mas não porque este cresceu. Não despencou como o PT, mas caiu também, teve 12,6% menos votos que em 2012. A ida ao segundo turno no Rio de Janeiro pode mascarar essa queda, mas não resiste à singela comparação com os votos recebidos por Freixo em 2012. Em 2016, o candidato teve 40% menos votos. E isso que agora foi ajudado com o voto útil dos esquerdistas que abandonaram Jandira Feghali, do PCdoB, que teve menos votos que o vereador mais votado do Rio. Ou seja, Freixo só foi para o segundo turno porque a quantidade de candidatos à direita dele eram muitos e, divididos, acabaram atrás. Tanto é assim que as primeiras pesquisas do segundo turno mostram como praticamente todos os eleitores dos derrotados migraram para o concorrente, não para ele.

Mas engana-se quem pensa que a esquerda rejeitada é apenas a mais radical. Não, também a que se mascara de direita, aceitando ser assim chamada, como a velha guarda do PSDB de Fernando Henrique e José Serra, caiu feio do cavalo. Não apoiaram o candidato do próprio partido, e não é que João Dória ganhou no primeiro turno? Alberto Goldman, um dos caciques do partido, da velha guarda também, chegou a dizer, dias antes da votação, que João Dória era uma desgraça para o partido. Nunca nenhum desses próceres tucanos bateu tão duro no PT. Estaria o PSDB se renovando? Cedo para dizer, mas quem venceu não foi a tucanada, mas um sujeito de fora do mundo político, com fama de bom gestor, abrindo mão do salário, prometendo privatizar o que puder e sem vergonha de ser rico e antipetista.

A esquerda foi rejeitada, é um fato. Significa dizer que a direita venceu? Não. Longe disso. A hegemonia esquerdista construída desde a década de 90 não tinha mais oposição à direita e a que surgiu, capitaneada por Bolsonaro e evangélicos, é mais beneficiária dessa rejeição do que conquistadora de votos. A esquerda vem perdendo para si, não para a direita. E a rejeição veio das ruas, não da política. A pior coisa que as esquerdas fizeram foi menosprezar e ofender o povo que foi às manifestações de verde e amarelo e recusou representação partidária. Foram as maiores manifestações da história, mas, para a esquerda, é só um bando de coxinhas golpistas. Irão aprender algo com a realidade escancarada ou insistirão em se orgulhar mais de suas bandeiras vermelhas do que da verde e amarela?

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