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Francisco Escorsim

Notas eleitorais e um pensamento

 | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
(Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

Semana passada destaquei um tema ausente no debate político eleitoral local, que é a rejeição à esquerda. Desde o início, falou-se muito na rejeição ao governador Beto Richa, como se só a dele fosse decisiva. Pois bem, está aí o resultado do primeiro turno. Dois candidatos mais à direita, ambos com apoio do governo do estado: Rafael Greca, com apoio do governador; Ney Leprevost, com apoio de Ratinho Jr., secretário de governo. Além disso, a filha da vice-governadora bateu tanto o filho do senador Requião quanto o petista Tadeu Veneri.

E mais: se somarmos os votos mais à esquerda – nos candidatos Fruet, Requião Filho, Tadeu Veneri e Xênia Mello –, eles dão um total de 31,06% dos votos, menos do que Rafael Greca conseguiu sozinho. Por fim, considerando a votação para vereador, o PT e suas linhas auxiliares, como o PSol, fizeram votações pífias, com apenas um eleito. E agora, especialistas? Vamos falar sobre a rejeição à esquerda?

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Talvez agora seja o momento de Fruet pensar se carros não transportam eleitores

Trabalho exemplar desta Gazeta do Povo nestas eleições. Debates originais, sabatinas muito bem feitas, guias para conhecimento e escolha de candidatos, além das reportagens de cobertura do dia a dia. Instrumento muito interessante foi o filtro de ideias; pena ter sido pouco proveitoso, pois foram poucas selecionadas e com recorte ideológico limitador do eleitorado. Para ficar só num exemplo: sobre o Uber, perguntou-se sobre sua regulamentação, como se a discussão fosse apenas essa, desconsiderando que a desregulamentação dos táxis não só é ideia conexa, como muito mais significativa das ideologias em jogo nesse debate. Tomara que essa ferramenta seja aprimorada para os próximos pleitos.

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Esta foi a primeira campanha com proibição de financiamento de pessoas jurídicas. Segundo o presidente do TSE, houve diminuição de dois terços no volume de doações. A campanha modesta teria sido visível nas ruas, com pouca propaganda. Mas não sabemos (ainda) o quanto o caixa dois teria aumentado ou não. Sem isso, não há como avaliar. Além disso, há o aumento das fraudes. Nas últimas semanas, várias notícias deram conta de mortos doadores, beneficiários do Bolsa Família e casos em que todos os funcionários da mesma empresa “doaram” para o mesmo candidato.

Também na mesma entrevista, o presidente do TSE informou que tivemos as eleições mais violentas da história, com clara interferência do crime organizado. Teria relação com o caixa dois e a proibição de financiamento empresarial? Eis algo a ser muito investigado e analisado com cuidado.

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Para terminar, um pensamento. Ortega y Gasset ensinava que, no latim antigo, o ato de eleger se relacionava com a elegância. Ser elegante era uma arte, a arte de preferir o preferível. Ortega gostava desse termo, “elegância”, também porque tinha a vantagem complementar de irritar certas gentes, aquelas. Além disso, elegância era sinônimo de ética. Curiosa correlação, não? Hoje, por eleição não consideramos mais do que fizemos ontem, apertar botões; da elegância só nos resta a arte de preferir o menos pior e a ética, coitada, está quase igual ao latim: incompreensível para quase todo mundo.

Iria terminar com esse pensamento, mas estamos no Brasil. Então, nada mais adequado que terminar citando o prefeito Gustavo Fruet – uma frase que ele muito repete: “Precisamos decidir se queremos transportar mais carros ou mais pessoas”. Já tratei disso nesse espaço e até hoje não sei bem o que o prefeito acha que carros transportam, mas, talvez, agora seja o momento de ele pensar se carros não transportam eleitores. Fica a dica.

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