Você sabia que já existe um muro de segurança em cerca de um terço da fronteira dos EUA com o México? Foi erguido em 1994, sabe por quem? Bill Clinton. Era parte do programa anti-imigração ilegal. Você viu a grande imprensa falar disso na cobertura das eleições americanas, questionando Hillary? Mas, tenho certeza, viu a grande imprensa horrorizada com a intenção de Trump de fazer o mesmo, completando o serviço.
Todos sabemos pela grande imprensa que Trump seria um machista acusado por várias mulheres de ter cometido abusos sexuais. Mas, se não fosse Trump tocar no assunto num debate, alguém teria ficado sabendo pela grande imprensa do caso do estuprador de uma menina de 12 anos defendido por Hillary na década de 1970? Tampouco seríamos lembrados, não fosse Trump levantar isso no mesmo debate, que Bill Clinton teve sua licença para praticar a advocacia suspensa em consequência do famoso caso Monica Lewinski – lembra-se dela? –, bem como de várias outras mulheres que acusam Clinton de ter cometido abusos sexuais também. Que pensa Hillary disso? Não merecia ser perguntada?
Se a imprensa não voltar a fazer jornalismo, em breve será sinônimo de vexame
Enfim, exemplos não faltariam comprovando o mesmo fato: a cobertura das eleições americanas feita pela grande imprensa foi mais do que tendenciosa, foi partidária. No escândalo dos e-mails de Hillary, que vêm sendo revelados pelo Wikileaks, surgiu a forte suspeita de que alguns dos grandes veículos de comunicação se tornaram, na verdade, extensões do Partido Democrata. Há e-mails enviados aos democratas pela produção da rede de tevê CNN e também por colunista do jornal Washington Post solicitando perguntas e material para inquirir e falar sobre Trump e outros republicanos. Não há nem sequer indício de que pedidos equivalentes tenham sido feitos aos republicanos sobre Hillary e democratas.
Não espanta, portanto, que a credibilidade da grande imprensa americana esteja no seu pior momento histórico. Pesquisa recente, de setembro de 2016, feita pelo instituto Gallup revelou que a confiança na grande imprensa caiu para 32%, sendo que, por causa da absurda cobertura eleitoral, esse índice caiu para 14% entre os republicanos. Mesmo entre os democratas, mal passa de 50%. E adivinha como a CNN tratou a pesquisa? Que não estão fazendo nada de errado, que é tudo culpa dos republicanos. Perderam a vergonha, pelo visto. É mais honesto, pelo menos.
Como a grande imprensa brasileira apenas replica o que essa imprensa democrata “noticia”, quem por aqui só se informou por ela sobre Trump não conseguia entender como deixaram o demônio encarnado se tornar candidato. Quando ele ganhou, então, parecia o fim do mundo, a pior coisa que poderia ter acontecido na história da humanidade. Não havia âncora e comentarista que conseguisse esconder sua decepção e desprezo. Uma jornalista chegou ao cúmulo de dizer, ao vivo, que Trump teria dito que odiava muçulmanos e negros. Por sorte, o repórter com quem falava a corrigiu, dizendo que ele nunca afirmou isso.
Não à toa, a confiança na grande imprensa brasileira não é muito diferente. Na última pesquisa divulgada pela FGV, no seu Relatório ICJBrasil, relativo ao segundo semestre de 2015, a confiança nas emissoras de tevê foi também de 32%, sendo que a imprensa escrita ficou com 43%, praticamente o mesmo porcentual de confiança dado às redes sociais, que foi de 42%. Ou seja, a maioria não só desconfia da imprensa como lhe dá tanto crédito quanto o que é publicado nos facebooks da vida. Se não voltar a fazer jornalismo, em breve será sinônimo de vexame. Que imprensa!
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