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 | Franz Vesely
| Foto: Franz Vesely

Quem está perdido na vida sabe ao menos duas coisas: que está desorientado e a procurar algo sem saber bem o quê, estranhamente confiando que saberá identificá-lo quando – e se – aparecer. Mas, como parece que não aparece, arrisca-se. Assim eu estava naquele outono de 1998, último ano da minha faculdade de Direito. Frustrado, vivia o aproximar da carreira profissional como quem via, na fila, chegar a vez de pular da prancha do navio pirata, sem mais nenhum engana-vidas, entregue à deriva da sorte. Em que me agarrar? Para onde nadar? Mirando os destroços, intrigava-me a filosofia, parecendo conter em si todos os segredos do mundo. Diziam haver um começo, mas, como não havia livros de Sócrates em português, quase desisti. Como se vê, náufrago não é figura de linguagem.

Só não larguei mão porque avistei sinal de terra firme. Numa das bancadas da livraria um título me chamou a atenção: O Imbecil Coletivo, de Olavo de Carvalho. Na primeira folha o autor colocou um questionário hilário para facilitar a vida dos leitores que queriam reclamar dele e da obra. Não tinha como não comprar. Li naquele mesmo dia, sem conseguir parar. Enfim encontrava alguém dizendo boa parte daquela realidade que eu também vivia, alguma coisa até enxergava, mas sufocava por não conseguir expressar. E o homem ainda tinha um site, com mil e uma indicações de leitura e material de estudo.

Educação é a solução, mas não o que se entende por isso nas nossas escolas e faculdades

Lá se vão quase 20 anos apostando na autoeducação, sem saber que era isso que fazia no começo. Não foi por gosto, nem masoquismo, mas desespero. Não procurava formação, educação, essas coisas. Se acontecessem, ótimo, mas eu só queria me encontrar, dar rumo à vida, mais nada. O resto seria lucro. E foi. Logo notei que eu não era exceção e, quando “mudei de lado”, do lado de quem pode ajudar em alguma coisa, jamais me deixei enganar por essa realidade. Como professor, sempre me foi mais urgente orientar do que propriamente ensinar o que quer que fosse. Até porque quem, nesse estado, tem condição de saber o que quer? Talvez, depois de encontrar um norte pessoal, talvez – repito, talvez – isso faça sentido e seja, então, desejado pelo sujeito mesmo, não mais como aposta.

Semana passada falei que tem solução, sempre tem. Educação é a solução, mas não o que se entende por isso nas nossas escolas e faculdades. Anthony Kronman, reitor da faculdade de Direito de Yale por dez anos (1994-2004), lançou um livro em 2008, cujo título já diz tudo: A finalidade da educação: por que nossas escolas e universidades desistiram do sentido da vida? Boa pergunta, não? Viktor E. Frankl, o criador da terapia do sentido da vida (logoterapia), desde o início dizia que ela se aplicava não somente como tal, mas também como forma de confronto existencial com o desespero e a dúvida se a vida tem sentido. Ou seja, a logoterapia é espécie de diálogo socrático, mais próxima da sala de aula que do consultório.

Por via inversa também vieram aqueles que, na década de 1970, enxergando o mesmo drama, vislumbraram a possibilidade de usar a filosofia para fins terapêuticos. O nome que pegou foi “filosofia clínica”, mas houve outros. Observando o mundo empresarial, corporativo, vê-se que, a seu modo, tenta também dar conta dessa carência de orientar, dar sentido. Surgiram, então, os chamados coachings, counselings, mentorings e devem estar inventando novos papéis e funções a atender necessidades específicas, cada vez mais crescentes por causa desse estado miserável em que nos encontramos.

(Não, não esgotei o assunto ainda.)

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