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Foi só insistir um tantinho na Verdade, assim mesmo, com maiúscula, insistir na necessidade da sua busca, de amá-la, enfim, que, aposto, leitores prudentes, moderados, sensatos, antenados, liquidamente modernos, deram dois ou três passinhos para trás, na ponta das meias, fingindo não estar em casa, como se uma testemunha de Jeová estivesse batendo à porta de casa rogando uma palavrinha.

Entendo, hoje em dia, melhor desconfiar de quem venha com esses paranauês transcendentais. Eu desconfio, pelo menos. Quando alguém cita, por exemplo, o combo Beleza, Bondade e Verdade, crendo não ser preciso dizer mais nada a respeito, como se isso fosse auto-evidente em uma cultura de Gosto, Tolerância e Relativismo, já sei que é um fetichista. Melhor não abrir a porta mesmo.

Exemplo majestoso dessa opção pela mentira se vê nos devotos da narrativa petista do “É golpe!”

Mas, caro leitor moderado, para quem a única verdade absoluta é a de que toda verdade é relativa e, por isso mesmo, não pode colocar em risco princípio tão solidamente gasoso, esclareço que quando falei da Verdade em meus últimos artigos não falava desde tão alto, não. Referia-me à presença dela nas coisas simples, banais, do dia-a-dia, como, por exemplo, o fato de você estar a ler neste instante. Ainda que pare agora, o que leu não será deslido jamais. Eis uma verdade absoluta. Você morrerá, será esquecido e, ainda assim, daqui por diante, neste dia, hora, minuto e segundo, esteve a ler o que está a ler, ainda que minta depois, negando. Se você não recuar dessa constatação óbvia da verdade absoluta, ainda que singela, dos fatos acontecidos, a conclusão lhe chegará em instantes: estamos imersos na Verdade. Nós passamos, ela não.

Tal constatação traz inúmeras implicações quando passamos à narrativa histórica. A primeira delas, de ordem moral. Sou livre para narrar, contar a história, do jeito que eu quiser. Posso alterar a verdade do que aconteceu, selecionar os fatos que quero, ignorando outros que me desmintam, contá-los na ordem que preferir, com a intenção e finalidade que desejar. Exemplo majestoso dessa opção pela mentira se vê nos devotos da narrativa petista do “É golpe!”. Na semana passada, essa turma teve um orgasmo narrativo com a divulgação de áudios de próceres do PMDB. Crentes que isso provava que tudo não passara de um golpe contra a Presidente afastada, fizeram até “diploma de trouxa” para quem bateu panelas e se vestiu de verde e amarelo contra a corrupção e o governo.

Agradecido, mas, é só escutar ou ler as transcrições para se constatar que, se golpe há em curso, não é contra ela, nem o governo, mas contra a Operação Lava Jato, sendo que a presidente afastada faria parte dos golpistas, como aqueles áudios de Lula, interceptados com autorização judicial, revelaram. Ou seja, todos procuram, de qualquer forma, encontrar algum meio de “salvar todo mundo”. Era assim com Dilma no posto, é assim com Temer no lugar.

Essa história, é evidente, ainda está longe de acabar, mas o descaramento na tentativa de controlar sua narrativa, selecionando fatos, ignorando outros e invertendo o significado de quase tudo, já é um fato consumado que não só admite, como exige, ser chamado pelo que realmente é: um golpe narrativo à realidade dos fatos. O que me devolve à implicação moral dos contadores dessa história. É obrigação moral desmascarar essa narrativa, leve o tempo que levar, exija o máximo de repetição de obviedades que exigir. Golpistas, não passarão.

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