Enquanto isso, na Sala de Justiça em cima do muro, os superisentos estão aflitos com a intolerância crescente na sociedade. Chamou-lhes atenção o caso de uma professora de História do colégio Medianeira, aqui de Curitiba. Alguns alunos protestaram na escola contra a presidente da República, Lula e o PT, por motivos óbvios. A professora, horas depois, em seu perfil no Facebook, acusou os alunos de exalarem ódio, desprezarem a democracia e pedirem um golpe, associando-os, por causa da roupa preta que usavam, aos fascistas.
Estranhamente, os pais dos alunos não aceitaram tamanha tolerância e se revoltaram contra o amor exalado pela professora. Aí, já viu, responderam tão ou mais amorosamente. O colégio e alguns outros de seus professores publicaram cartas abertas, defendendo a liberdade de expressão e manifestação do pensamento da educadora, com o colégio optando por proibir novos protestos e repudiar “a coação e hostilidade que possam vitimizar os educadores desta instituição de ensino”.
Os superisentos estão aflitos com a intolerância crescente na sociedade
Algum superisento poderia me ajudar a entender melhor? A professora exerceu seu direito de liberdade de expressão e manifestação do pensamento ao associar os alunos a fascistas exalando ódio, mas os alunos exorbitaram dessa mesma liberdade ao protestarem, confere? A professora tem liberdade para associar os alunos a fascistas, mas os pais não a podem chamar de comunista, é isso? É de se ficar muito preocupado mesmo com a intolerância crescente na sociedade.
O que dirão os superisentos sobre outro caso, ocorrido na semana passada? Como é sabido, um grupo de alunos e professores da Faculdade de Direito da UFPR realizou um ato no seu Salão Nobre contra o impeachment, exalando amor aos gritos de “Moro fascista, tucano e golpista”. Por óbvio, dias depois, e no mesmo local, outros alunos e professores da mesma faculdade – que, aliás, tem o juiz em seus quadros – fizeram um ato de apoio a ele e ao impeachment.
Enfim, assim como no caso do colégio, a panela de pressão apitou no Facebook. Uma aluna do curso de Filosofia da mesma universidade demonstrou interesse em participar do ato realizado em favor do juiz. Foi o que bastou para um professor do mesmo curso lhe enviar uma mensagem exalando tolerância: “Interesse em um ato de apoio a Sergio Moro! Minha nossa! A filosofia não torna ninguém melhor mesmo!” A aluna expôs a intimidação, referindo-se a outros casos análogos ocorridos dentro da faculdade, cansada da seletividade da liberdade de expressão ali dentro. Até o momento em que escrevo, o caso ainda não havia merecido cartas abertas de ninguém.
Tem conserto? Não se depender da astúcia dos superisentos. Estão, na melhor das hipóteses, como aquele sujeito da piada dos leões à solta no circo, sabe qual? O circo está lotado e o sujeito só encontra lugar para sentar no encaixe entre duas das arquibancadas de madeira, ambas vergadas para cima por causa do excesso de peso. Ele até já tinha se acostumado ao desconforto quando, durante o número do domador, os leões fogem das jaulas, causando pânico e correria. Nosso herói demorou a se levantar e, quando tentou, as tábuas tinham voltado ao seu normal, prendendo-lhe pelas partes íntimas. Que fazer? Implorar: “Senta, gente! Senta, por favor! Senta que o leão é manso!”
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