O petróleo melequento faz o mar parecer sopa alho e óleo; não se misturam, mas a água fica nojenta. A Europa viu a sua moeda rolar na ladeira como se fosse dinheiro de país tupiniquim. O Brasil foi ao Irã para mediar negociação internacional sobre a produção de urânio enriquecido e saiu com acordo sobre o desacordo. Ladrões roubaram, sob o olhar parvo de policiais, a bolsa de uma senhora dentro da Delegacia de Polícia da cidade de Salto, em São Paulo. Choveu muito em Curitiba. Inesperado e esperado, nalgum momento, coisas do passado. Tantos temas para pensar, falar, escrever. Destacar, revelar, lançar o pensamento para examinar em três dimensões, exige esforço que rompe a inércia do tédio. Porém, mesmo assim, eventos fortes vão esmaecendo: o caos de 45 e a festa de 89 em Berlim, o paralelo 38 cindindo a Coreia, Dien Bien Phu em 54 e Saigon em 73, Santiago em 73, maio em Paris e o AI5 em 68, Senna em 94, o Couto Pereira em 85 e 09. O fato relevante hoje se esvai na lembrança fugaz de amanhã. Até os eventos individuais empalidecem. Aniversários, formaturas, natais, o começo de um novo trabalho, o fim de um emprego, vão se tornando borrões indistintos.Outra semana começa. Acontecimentos saltarão das páginas e telas para olhos atentos e desatentos; narrativas fônicas vibrarão tímpanos sedentos de silêncio. A chegada da Copa produzirá comentários, análises, a África será esquadrinhada, multidões se emocionarão com os jogos finais. Leões, zebras e girafas mostrarão suas caras à exaustão. Contudo, a paisagem mais bela da África é o sorriso de Mandela, típico de quem não tem medo de si mesmo. Os 27 anos de claustro foram a forja da têmpera que administra a alegria e a tristeza como polos que fazem o dínamo da vida. Nada do que é humano lhe é estranho, incluindo saudade, dor, luxúria, ataraxia, felicidade.
A pitada de niilismo que volta e meia aflora assusta muita gente. Depressão!? Jorram "causos" sobre fulano, beltrana, cicrano, deprimidos num dia, premidos quimicamente à euforia noutro. Medo da tristeza introspectiva, da pausa reflexiva, do solilóquio? Fobia de si mesmo, de seus fantasmas e desejos? Ora, ouvir a voz do próprio pensamento em meio ao burburinho da mundanidade é se desmassificar, fazer por um momento o universo girar em torno do ego que cogita. Sinto tristeza, logo existo. Depois a Terra vai prosseguir seu giro sobre si, autocentrada, e tudo será visto de novo sob o sol.
Ainda que por fração de tempo o estrépito pode ser afastado da percepção e, sem a sensação de variação do tempo de uma semana para a outra conforme a intensidade dos eventos, as emoções do vivente vagam no infinito interior. Visitar-se, apresentar-se a si mesmo, divertir-se com a própria companhia, rir das tolices que pensou e, pior, fez. A modernidade é barulhenta, brilhante, abafa a voz interior, criando dificuldades para que a pessoa se ouça e se veja. Silêncio, penumbra, tecnoelisão (redução ou supressão de tecnologia), são necessidades tão básicas quanto a informação e interação social.
Esse sujeito é muito casmurro! Talvez. Porém, é o sujeito dos verbos da sua existência e não um avatar indefinido das existências dos outros.
Boa semana se avizinha no horizonte desta segunda-feira.