A subjetividade sobrepõem-se a objetividade, com juízos ad hominem obstrutores da dialética das ideias, a exemplo do que disse ministro do Supremo Tribunal Federal por ocasião do julgamento das cotas raciais: "Basta ver o caráter marginal daqueles que se opõem ferozmente a essas políticas...". A luz da ciência fica baça à sombra das idiossincrasias.
Não sabemos por que existir, mas podemos escolher para que existir. A aquisição, exponenciação e partilha do conhecimento é o principal tributo humano à vida. Em ambiente de liberdade de produção, circulação, cotejo e síntese, teses passam por processo de seleção cultural e as mais aptas a explicar os fatos remanescem. No século 19 Lamarck e Darwin apresentaram explicações para a evolução das espécies. A tese de Lamarck sobre atrofia e hipertrofia de órgãos e membros, em razão do uso, ser transmitida às gerações seguintes, sucumbiu quando se chegou ao conhecimento sobre os genes. A genética fez ver que o raciocínio de Darwin era mais adequado à compreensão da biodiversidade. O debate entre lamarckismo e darwinismo acelerou o desenvolvimento de outras ideias, dando ignição à biologia moderna que tem culminância no mapeamento do genoma das espécies e todas as aplicações agrícolas e medicinais que tornam a sobrevivência, inclusive dos fracos, mais fácil atualmente.
Situação oposta ocorreu na extinta União Soviética, na qual decisão ditatorial estabeleceu verdade ideológica, não científica, para fatos da natureza. Adjetivando de "burgueses" os cientistas que pesquisavam genes a partir das anotações de Mendel, um agrônomo russo, Lysenko, foi ungido por Stalin a chefe da Academia de Ciências e suas teses, ensinadas nas escolas como adequadas ao socialismo. Os autores de pensamento divergente foram fuzilados. A tirania política aplicada à ciência gerou fome em escala de holocausto como o sofrido pelos ucranianos. A postura científica deveria estar sintonizada com o governo socialista, ligado aos trabalhadores e a revolução criadora de nova sociedade.
Com linguagem mais suave, Antonio Gramsci preceituou o engajamento político da ciência ao afirmar que os cientistas são produto da classe social da qual provém. Não há, nesse perspectiva, uma ciência, mas muitas ciências, conforme o estrato social dos produtores do pensamento. Assim, pensar nunca é ato livre, criativo; sempre o pensamento é consequência das condições materiais do pensador. Os intelectuais organicamente ligados à classe operária deveriam fazer ciência destinada à produção, afastando-se das abstrações estéreis da ciência tradicional. Esses "intelectuais orgânicos" devem se preparar para, além da ciência, fazer política, dirigindo o inevitável devir da ascensão dos proletários ao poder.
A democracia operária, utopia distópica, é passado, embora efeitos de visão de mundo ainda remanesçam em alguns lugares, a exemplo de universidades brasileiras nas quais a ciência politicamente engajada gera tirania difusa, invisível, em pressão lateral que inibe o fluxo livre de ideias entre mentes com patrulha ideológica. Faz-se ciência aceitando a seleção cultural das teses pelas suas qualidades científicas e não pela subserviência a interesses políticos.
A gaia ciência descreve o mundo sem a pedância de transformar as pessoas.
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