| Foto: Felipe Lima

Em maio de 2000, o governo da época precisou mobilizar a base de apoio no Congresso Nacional para aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal. A obviedade do zelo com as contas públicas foi rejeitada por grande número de parlamentares de vários partidos. Houve até ação de inconstitucionalidade diretamente no Supremo Tribunal Federal, pedindo que a lei não produzisse efeitos. Para quem quiser ver, basta acessar o site do STF (www.stf.jus.br) e procurar pela ADI 2.238.

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Entre os 86 votos contrários, na Câmara dos Deputados, à aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal estavam os de Antonio Palocci, Aloizio Mercadante e José Genoino – então presidente do Partido dos Trabalhadores. O atual vice-presidente da República, Michel Temer, então presidente da Câmara dos Deputados, também se opunha à LRF. Na mesma trincheira estava o finado senador Antônio Carlos Magalhães. Vê-se, pelos exemplos, que a questão não era ideológica, mas incompreensão de como deve ser a gestão da coisa pública.

Os argumentos contrários à responsabilidade fiscal tergiversavam, iam a miudezas, demonizavam o FMI. De certa forma, a LFR pode ser lida como LRFmi, mas, se não tínhamos juízo para encher uma caixinha de fósforo, os pitos vindos do Fundo eram providenciais.

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Os políticos em geral, os brasileiros em especial, não compreendem a distinção entre riqueza e dinheiro

A demonização do Fundo Monetário Internacional tinha a profundidade intelectual das faixas de passeata. Ecoava na militância a sensação de que o Tio Sam, por meio de preposto, tentava mandar no Brasil. Santa ignorância, o Robin dizia ao Batman!

Vínhamos do descalabro orçamentário do regime militar. É bom lembrar àqueles que falam no retorno do governo castrense que o desarranjo atual das contas públicas é muitíssimo semelhante ao de 1985. Entramos no túnel do tempo e fomos para o lado errado. Em vez da trilha para o futuro, voltamos 30 anos.

A monarquia em Portugal e no Brasil foi sucedida por repúblicas oligárquicas. As elites políticas permaneceram com a mesma cultura de confusão entre fazenda pública e fazenda particular. Os poucos dirigentes honestos não roubaram escandalosamente o erário, mas o administraram como quem cuida displicentemente do seu negócio. Geriram para atender interesses paroquiais ou partidários, sem a percepção de que todos os brasileiros são donos nesse gigantesco condomínio que é a República do Brasil. Se o síndico do condomínio administra desajuizadamente, fazendo dívidas impagáveis, todos os condôminos empobrecem.

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Os políticos em geral, os brasileiros em especial, não compreendem a distinção entre riqueza e dinheiro. Se as cédulas ou moedas fossem a riqueza, bastaria imprimir ou cunhar e todos os problemas do mundo estariam resolvidos. A quem pensa assim, sugiro trocar os reais por dólares zimbabuanos e tentar adquirir bens no Zimbábue arrasado por hiperinflação. Lá não há bens e serviços – riquezas – a comprar.

A riqueza nasce da conexão entre os meios de produção e o trabalho, não de parolagem de palanque. A LRF é um dos poucos marcos de deferência à realidade. Urge celebrá-la sem as “pedaladas” da contabilidade criativa (estelionatária) dos últimos tempos.