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Durante alguns dias sonhamos com o papa toledano; conviveremos muitos anos com o argentino que conduzirá o Catolicismo nesses tempos de acirramento religioso em algumas partes do mundo e abrandamento da fé em outras. Porém não é do papa Francisco que falarei, embora até a escolha do nome seja muito significativa, rompendo o uso de nominação de pessoas dos primórdios do Cristianismo, para marcar posição com a referência ao santo medieval que fez da pobreza (não preguiçosa) e da caridade os grandes sinalizadores da sua iluminada trajetória, somada a outro Francisco, o Xavier, que no século 16, junto com as grandes navegações, cristianizou povos do oriente.

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Mal e mal se confirmou a notícia da eleição do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio como papa e os chistes explodiram nas redes sociais. A vitória no Vaticano é compensação pela derrota nas Malvinas; as hóstias virão com sabor de alfajor; o último segredo de Fátima será revelado pelo novo papa: Pelé é melhor que Maradona. As provocações com os vizinhos têm o tom da amizade alegre que dá azo ao dissenso e emulações por prestígio internacional mantendo-se, quase sempre, o respeito e admiração.

Contudo, a piada verdadeira foi protagonizada pelo presidente pro tempore da Venezuela, Nicolás Maduro: segundo ele, Hugo Chávez conversou com Cristo e disse que era a vez da América do Sul. Não bastante, Maduro asseverou que Chávez vai convocar assembleia constituinte no céu para que o "povo de Cristo" governe o mundo. Nem Gabriel Garcia Márquez foi capaz de inventar realidade tão fantástica quanto essa! Macondo é bairro de Caracas. Se bem que há Macondos (a vila onde acontece a realidade absurda) espalhadas por toda a latinidade americana.

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Se Maduro pretendia fazer galhofa, transformou o histrião Chávez em bobo da corte muito mais cedo do que era esperado. Tiranetes carismáticos são ridículos quando vistos por quem não está encantado. Mussolini, aos olhos modernos, parece soldadinho de chumbo movido a corda. Perón e Evita lembram Ken e Barbie. Stalin, baixinho, usava salto, não permitia que pessoas ficassem mais altas nas fotos e se apresentava maquiado, com face apolínea. Os dois ditadores vitalícios da dinastia Kim que governaram a Coreia do Norte em sequência e o terceiro Kim que governa agora mantêm o estilo, com roupas estranhas, cabelo com topete de quase um palmo, óculos exóticos. Muammar Kadafi se trajava como übersexual lembrando propostas radicais em desfile de moda. De Hitler nem se fala: como é que alguém com aquele penteado e bigode não foi retido no hospício a tempo de evitar o nazismo?

Se Maduro falou a sério, transformou-se na figura histriônica da ocasião. Até Tiririca, o palhaço que se tornou deputado, tem prudência suficiente para separar as coisas e não macular o decoro exigido de quem representa o povo. O presidente da Venezuela foi além e disse que Chávez promoverá mudanças para que os cristãos governem o mundo. Se falou seriamente, o que devem pensar os povos que adotam outras religiões?

Oxalá tenhamos belíssimo papado porque, se a América Latina depender apenas da imagem de suas autoridades seculares, o mundo nunca a levará a sério.