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A expressão nasceu na França para designar situação em que há mudança de direção do Estado sem alteração do rumo político. Trocam-se as pessoas que titularizam o poder, mas nada efetivamente muda. Quem já é parte do poder avança sobre outras fatias do mando. As quarteladas na Iberoamérica foram golpes de Estado típicos, com todos os ingredientes. No longo prazo, se vê que até a Sierra Maestra foi para a mesma foz. Dos bolivarianos nem se fala: a pantomima é tão acentuada que palavras da teoria da política não se mostram adequadas. Algumas de picadeiro, talvez.

O peso semântico de golpe e revolução diferem. Por isso, ninguém se apresentou ao público dizendo: demos um golpe de Estado e passamos a mandar no país, a nosso talante. Todos se apresentam como redentores da pátria e guardiões contra inimigo interno ou externo.

Enquanto transpirava na academia, os alto-falantes vociferavam barulho à guisa de música. Ocorre, intrarruídos, escutei coup d’Etat com sotaque estranho e versos em idioma que pensei tratar-se de vietnamita. A coincidência foi curiosa porque no mesmo momento a tevê apresentava jornal matutino e dava destaque à fala da presidente da República, que tachava de golpe a mobilização pró-impedimento.

Ninguém se apresentou ao público dizendo: demos um golpe de Estado e passamos a mandar no país. Todos se apresentam como redentores da pátria

Intrigado com a música, fui ao Google e descobri que improvável rapper sul-coreano, cujo nome artístico é G-Dragon, lançou álbum musical com o título Coup D’Etat em 2013 e fez tanto sucesso que chegou a apresentar-se no Japão. Ressalte-se que as rivalidades locais fazem disso um feito heroico, mítico. A Coreia produz arte cosmopolita, indo além da versão da Eguinha Pocotó do Psy. Encantado, percebi a universalidade do galicismo nascido nas turbulências políticas da França no século 19, tanto que um jovem de cultura asiática manifesta angústias poéticas por meio dessas palavras, estranhas ao seu idioma de berço.

Saindo do modo avião, me lembrei do impedimento de Fernando Collor e Fernando Lugo. Se FHC tivesse também passado por isso, o nome se tornaria anátema. Collor foi destituído da Presidência acusado de corrupção, roubo de dinheiro público. Lugo, de incapacidade para dirigir o país.

Pois bem, em 1992 um impeachment; em 2012 o de Lugo. Em 2015 agitação política pelo impedimento da presidente do Brasil. O presidencialismo latino – paródia do norte-americano – parece estar encontrando feições próprias. É certo, a constatação vale para os países que mantêm alguma compostura democrática, não àqueles de impostura.

A Constituição Federal do Brasil tem chassis parlamentarista e carroceria presidencialista. Claro, gera dificuldades para dirigir. A boleia é para quem tem habilitação nível D. Não é para amadores, como dizia o saudoso Belmiro Valverde.

A maturação da democracia brasileira tem melhor caminho no andamento normal dos prazos de mandato, até porque o dos parlamentares não pode ser antecipado por meio de eleições gerais. Porém, se em menos de 30 anos houver dois impedimentos do chefe do Executivo, estar-se-á no limiar de presidencialismo à brasileira, com proeminência do parlamento.

Imprescindível é a certeza de que não há messias e todos são transitórios, substituíveis, inclusive os megalômanos.

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