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Houve tanta novidade nos últimos dias que a détente entre o Tio Sam e o vovô Fidel parece assunto velho, nostálgico. Porém, o articulista que transita entre a crônica, prosa e análise pode se dar ao desplante de versar sobre temas fora de voga sem corar de vergonha. Com essa licença para fugir da instantaneidade, me lanço aos pensamentos a partir da primeira ideia que me assomou na voz da Rita Lee, cantando um caso sério entre românticos de cuba libre.

Rum, Coca-Cola, limão e pedras de gelo eram ingredientes de bebida muito apreciada nas festinhas antigas. A piazada – a quem os genitores proibiam beber álcool – sonhava com o sabor de ser grande, dançar com a bonitona da ocasião e fazer pose na mesa bebendo a mistura borbulhante. Claro, sem o Google, ninguém sabia a origem do nome e imaginavam-se significados: Cuba livre dos americanos, Cuba livre da monarquia Castro. Sem a resposta, bebia-se discretamente um gole do copo do amigo mais velho. Pouco, para não ficar com bafo e ser reprovado na inspeção materna no retorno para casa.

Memória de antanho, dirá o leitor! Ora, direi eu, razão tu tens, mas a história entre os Estados Unidos e Cuba parou na década de 60. São dois fósseis políticos que ressuscitaram no museu e saíram à luz do século 21. Agora, das peças arqueológicas da Guerra Fria resta apenas a Coreia do Norte, com suas periódicas crises de fome, doenças e arroubos tragicômicos do ditador que parece bonequinho Playmobil.

A fila da história andou – sem catraca – e muitos outros problemas de convivência surgiram nas relações internacionais, destacando-se nos últimos anos o fundamentalismo islâmico com atos de violência dentro e fora do Islã. O Apartheid acabou, Mandela foi ao céu; a Ucrânia está prestes a participar da Otan; o Japão ficou à sombra da China. A vida acontecendo e os dois vizinhos fazendo cara feia um para o outro por causa de divergência que se arrastava por mais de cinco décadas.

O espantalho do imperialismo já não assusta os passarinhos na horta dos Castro. Os discursos intermináveis provocam bocejos na plateia cativa. A empolgação máscula de outrora deu passo ao desencanto da senectude pobre, paralisada, dependente da transfusão de recursos da Venezuela. A falência múltipla de órgãos se avizinhava como causa mortis a ser anotada no atestado de óbito do projeto de socialismo tropical.

A combinação do instinto de sobrevivência de Raúl Castro com a carência de um fato marcante no currículo de Obama propiciou ambiente para o sucesso dos bons ofícios do papa argentino. Os vizinhos voltaram a conversar e podem superar os dissensos que não fazem mais sentido na modernidade.

Cuba nunca será livre como o Japão ou a Inglaterra. Ilhas que dominaram continentes. A fragilidade institucional e o atraso científico-tecnológico a impelem a manter a condição semiparasitária que a caracterizou por toda a sua história castrista, salvo decisão que aponte para relações simbióticas com os grandes da América, especialmente conosco.

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