Recentemente o semanário britânico The Economist publicou análise intitulada "50 anos de soneca", ilustrada por foto de pessoa balouçando na rede à beira-mar, na qual discorreu sobre a baixa produtividade dos brasileiros. Abundam cotejos fortes, a exemplo da produtividade de duas barracas de venda de sanduíche no último festival de música Lolapalooza em São Paulo: uma servia a cada 15 segundos e a outra, a cada 3 minutos. A produtiva era estrangeira; a lerda, brasileira.
Os atendentes de lanchonete brasileiros, com 18 anos, têm habilidade de norte-americano com 14, diz o semanário, comentando a baixa qualificação dos nossos trabalhadores, que vão à escola, mas não aprendem. A despesa pública com educação aproxima-se dos países ricos, mas a qualidade continua na lanterna do mundo, observa o comentarista.
As reações ao texto atacaram o periódico, não as ideias. Dizer que The Economist mente, não dá. Os números mostram que a produtividade no Brasil permanece inalterada desde 1960 enquanto na Coreia do Sul aumentou dez vezes. Significa dizer que o trabalhador brasileiro de hoje, com todo o ferramental da modernidade, produz quase a mesma riqueza que há 50 anos. Tolice pugilar contra fatos.
O analista diz que poucas culturas oferecem tantos estímulos para aproveitar a vida. O ponto nevrálgico é: somos vagabundos? Basta conhecer a rotina duríssima dos brasileiros para ter certeza do seu heroísmo.
A infraestrutura de energia, saneamento e transporte é hostil às pessoas. O trabalhador acorda às 5 da matina, banha-se rapidamente em água fria porque a energia e a água racionada são caras; toma o primeiro ônibus às 5 e pouco; às 6 e meia, o segundo; e chega ao trabalho depois das 7 e meia. Nesse dia não houve greve, assalto, enchente; só as filas para superlotar os veículos e os ordinários engarrafamentos de trânsito.
Às 8 começa o trabalho; porque não houve passeata e baderna, chega em casa às 20 horas. Está acordado há 15 horas. Vai viver a família por três horas, vendo na tevê notícias sobre violência crescente, descalabros e roubalheiras públicas. Que ânimo sobra para estudar, melhorar o modo de trabalhar?
A comparação com os coreanos é injusta. Na cidade de Seul, de tamanho similar ao de São Paulo, a pessoa gasta uma hora para se transportar; no serviço, usa equipamentos sofisticados e abre a porta de casa às 19 horas sem ter passado por tiroteio, depredação de ônibus. Então, na convivência doméstica, com internet barata e veloz, estuda para se tornar mais apto a trabalhar bem.
No Brasil trabalha-se muito e mal, por isso a produtividade é baixa. Porém, atribuir isso a indolência, desvio de caráter, é fugir da responsabilidade. O atraso do Brasil rouba a energia de seus trabalhadores! Se sucessivos governos subissem acima da linha da mediocridade, investindo na infraestrutura, a produtividade brasileira daria saltos coreanos. Por ora, a preocupação com boas condições é adjetivada de "babaquice" por políticos importantes, já que brasileiro não tem problema "em andar a pé" e vai até de jegue.
Os brasileiros comuns são os mocinhos da história. Os vilões todo mundo sabe quem são.
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