No momento que datilografo essas bem traçadas linhas afinal, o computador não permite escrever certo por linhas tortas; pode-se até escrever torto, mas sempre por linhas certas , não sei o resultado da eleição. Imagine, caro leitor, a angústia do colunista nesses tempos de instantaneidades e celeridades, lançar ideias a serem divulgadas dias depois. Se versa sobre algo muito do momento, corre o risco de que a situação se modifique tanto que a análise fique completamente defasada.
Por isso, dentre os temas que buliam minha mente, elegi banalidades imunes à passagem do tempo e também para fugir da saturação de pesquisas, gráficos econômicos, horários eleitorais, decapitações jihadistas, histrionismos bolivarianos, cristinices platinas. O mundo sempre parece que vai acabar, meio indistinguível entre construção e ruína. A vida segue teimosa, com dramas e felicidades microscópicas que vez em quando ganham manchetes.
Pedindo antecipadas escusas para não ser acusado de heterofobia, notei que o George Clooney se casou com uma mulher e mesmo assim conseguiu espaço noticioso. Não foi a criança que mordeu o cachorro, como ensinam nas escolas de jornalismo. Isso só fez aumentar a inveja do cinquentão grisalho que contraiu matrimônio potencialmente fértil, incentivou a comensalidade com a família e, pasmem, ofereceu macarronada! Onde este mundo vai parar!
A milésima oitava edição do reality show cabeça de vento vai começar em breve e desfilam pelas redes sociais as celebridades anônimas que já passaram pela telinha. Silicone, mudança de genitália, perímetro de bíceps são os assuntos momentosos a exigir nenhuma intelecção. Banais, banais, nada demais. Filosofar sobre o nada é coisa para os gênios. Assim, depois de ver calipígias com aparência geral de halterofilista, me perco no vazio de significado.
Mudo a página à cata de amenidades e vejo desfile de roupas para o verão. Cabides ambulantes, andando de modo estranho, portam peças semelhantes todos os anos. Cacopígias, tábuas de passar, fazem poses e caretas que o comentarista diz valerem milhões. Eu não pago um centavo, penso num resmungo. Vejo na rua o amarelo em sapatos, bolsas, vestidos. Hum, acho que não compreendi a força da insignificância. Aquelas mulheres andróginas são capazes de influenciar a decisão de compra. Isso não é tão fútil quanto eu havia imaginado. Posto ser assunto sério, fujo dele.
Estanco ante a informação de que a Miss Brasil reduziu a cintura em 8 cm e aumentou, bem, aumentou a parte que aumenta quando a barriga diminui, ao longo de dois meses de dieta e treinamento. Aquela inocência iracêmica evaporou dos meus olhos. Será que nesse período de intensa concentração ela leu Saint Exupéry? Se leu, entendeu? Aos 10 anos não entendi e desisti de fazer doutorado sobre o Pequeno Príncipe.
Os olhos pulam para a nova namorada do Neymar. Não precisa dizer, padrão Ferrari Louboutin. Sim, a desfaçatez desses "namoros" é de ruborizar faces de uma maçã. Baita reaça, penso a meu próprio respeito. Pare com essa caretice. Deixe a moçada rolar e pare de conjecturar tentando explicar tudo. Basta se divertir e deixar a rotina seguir com as atrocidades e futilidades de sempre.
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