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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Das ironias do destino, uma se revela no frisson causado pela visita de Obama a Cuba, agendada para o próximo dia 21. Os nossos dirigentes semibolivarianos eram figurinha fácil na ilha e não causavam estrépito. Na verdade, se comportavam como quem vai a Roma querendo beijar o anel papal. Assim, publicar foto de encontro com Fidel Castro era coisa para encorpar currículo do marketing revolucionário. Obama é Deus visitando o papa. Notícia estrondosa muito diferente daquela irrelevância dos romeiros do terceiro mundo que batiam à porta do Fidel para pedir bênção.

Imaginei que o único saldo positivo dessa postura genuflexionada poderia ser a captura de Cuba para a nossa órbita. Somos próton de pouco peso, mas a reverência de súdito ao rei Fidel poderia – sonhava eu – render vitória sobre os gringos quando a monarquia acabar e a Ilha se tornar república. Vã filosofia. Nada de samba, apesar da longa presença das novelas brasileiras, aquelas sem conteúdo político, no cotidiano dos ilhéus. O sonho dos Castro é o reconhecimento pelo Tio Sam, a quem darão todas as facilidades do Porto de Mariel, construído com o dinheirinho suado do povo brasileiro.

O sonho dos Castro é o reconhecimento pelo Tio Sam

Deixou de ser quintal ianque para se tornar pátio de manobras russas. De 90 para cá é terreiro vazio, à espera de ocupação. O leilão estava aberto e o grande lance foi dado. Cuba vai voltar a ser o Havaí da costa leste. Agora com muito mais razão do que antes porque a paralisia socialista teve o efeito positivo de impedir a industrialização e a construção civil, preservando as condições dos anos 50. Grande museu que os americanos comuns vão invadir para tomar sol nas praias, beber rum, gastar dinheiro nos cafés, clubes, casas de prostituição. Nosso real fraquinho não vai dar nem para o cheiro dos preços exorbitantes que passarão a ser cobrados.

Gente grandona, obesa, com camisas que não combinam com as calças, usando sandália com meias pretas. Esse é o preparo físico e o uniforme dos marines que invadirão a ilha. Armados com cartões de crédito, obterão rendição rápida e incondicional dos nativos.

Logo haverá casas de rappers milionários nas praias chiques, artistas de Hollywood fazendo retiros em spas caríssimos. Locais da ilha serão cena de filmes bons e ruins e não apenas de espionagem, com o Daniel Craig emergindo das águas como Poseidon. Tal qual o Havaí, Cuba está condenada, e ao mesmo tempo abençoada, ao turismo que é forma de dependência da riqueza gerada fora.

Até hoje, com a sua postura Rum Riot, Cuba não produziu nenhum objeto inventado no século 20. Escolarizados sem a oportunidade de ter contato com a ciência e tecnologia, os cubanos se amarguram com a assimetria entre os trabalhos rudimentares e mal remunerados e a qualificação que têm. Há desalento no ar emocional espesso da Ilha. Além da pobreza, do policiamento da “crimideia”, existe a sensação de que a gerontocracia vive com o freio de mão puxado, impedindo a modernidade econômica que, diferentemente da China, pode trazer liberdade política.

A felonia dos barbudos era só isso, felonia. A vassalagem recomeçou.

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