Depois de duas gerações de “intelectuais orgânicos”, adeptos da filosofia da práxis ao estilo de Marx, com muito mau humor e barba mal cuidada, conotando falta de tempo para zelar pela aparência – coisa fútil da burguesia –, continuamos no ponto de partida. Discurseiras, seminários de pedagogia revolucionária, e o desempenho dos brasileiros em intelecções primárias continua em 1960. Claro, a dizer que toda essa “religião política” é fóssil do século 19, preferível botar a culpa em causa etérea, conspiração imperialista, resistência da burguesia. Nunca a ideia está errada. Errados estão os fatos.
Abandonar a fé numa crença de paraíso que virá pela irrefreável força do materialismo histórico é dolorido para o fiel
A pretensa cientificidade do socialismo de cartilha marxoengeliana afirma a necessidade da autocrítica. Mas quem, de carne e osso, assume que agiu como ratinho encantado pela flauta? Ter a coragem de acordar da hipnose zumbi de uma ideologia é ato heroico. Algumas pessoas que fazem isso saltam para o lado oposto e se tornam radicais em antítese à radicalidade anterior. Não é preciso travestir-se em inimigo do que se era até ontem para contribuir com a paz e tranquilidade social.
Abandonar a fé numa crença de paraíso que virá pela irrefreável força do materialismo histórico, com o “novo homem socialista” cooperando harmonicamente enquanto os anjos tocam harpas, é dolorido para o fiel. Afinal, investiu tempo, honorabilidade, limitação do círculo de amizades e assim, duma hora para outra, vai trocar de camisa, mudar de time?
A perplexidade desses militantes típicos ao ver que o povo, depois de muito ajutório populista, não se tornou adepto da revolução e votou maciçamente contra o bolivarianismo é comovente. Os blogs “progressistas” estão repletos de mágoas, explicações e sugestões. Algumas são inofensivas e propõem escrever manifestos, falar aos pobres, demonstrar a opressão, como se alguém prestasse atenção a essa chiacheratina. O problema está nos agressivos, que se sentem profetas do mundo perfeito, e, ao estilo Maduro, consideram o resultado eleitoral negativo um erro infantil do povo e se posicionam como pais a corrigir criancinhas.
Talvez, na América Latina, fosse o caso de criar a Associação de Recuperação dos Viciados em Ideologia, uma rehab para facilitar o abandono da adicção em marxismo e sua versão palatável por setores do cristianismo, o gramscismo. Esse spa para detox ideológico teria programa de confinamento que começaria com uma semana de vítima do Pol Pot; na segunda semana, o interno (intelectual orgânico) passaria pela Revolução Cultural de Mao Tse-tung; na terceira, o quase ex-militante se alimentaria com o cardápio do Holodomor ucraniano. Na quarta semana, trabalharia como operário, tomaria ônibus, arrumaria o quarto, lavaria a louça, esticaria os trocados para gastar numa birita.
A manutenção da detox seria completada com a exoneração do cargo comissionado no serviço público e a constituição de empresa. Tendo de sobreviver do próprio engenho, pagar tributos escorchantes, propinas, contas, salários, o agora realista pediria de presente ao Papai Noel boas quantidades de estabilidade jurídica, respeito aos contratos, reconhecimento ao labor empreendedor.
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