A sonoridade levemente ambígua do título prefacia a homenagem ao poeta que embelezou a nossa língua, iluminou sutilezas emocionais de várias gerações e foi deliciosamente incorreto ao dizer "as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental". Com a licença poética de Vinícius de Moraes, os certinhos que me perdoem, mas a boemia é essencial porque a vida só se dá pra quem se deu, pra quem amou pra quem chorou pra quem sofreu, pra quem abusou da regra três. Pergunte pro Orixá, amor só é bom se doer.
Vinícius foi educado quando se aprendia latim e grego no ginásio. Formou-se em Direito na Universidade Nacional no Rio e estudou na Inglaterra como bolsista. Com esse currículo, reprovou no primeiro exame de admissão ao Instituto Rio Branco. Aprovado na segunda tentativa, tornou-se membro da carreira diplomática brasileira. A grandeza intelectual e cultural o distancia da mediocridade que maltrata os ouvidos e o intelecto na música que faz sucesso hoje.
Em tempos de apologia da ignorância, pessoas que nem sequer estudaram português, embora tenham frequentado a escola, não conseguem desenhar um castelo com cinco ou seis retas numa folha amarela e não imaginam uma linda gaivota a voar no céu num pinguinho azul no papel.
A condição humana é marcada pela idealização do antes e amargura do agora. Porém, de fato, a modernidade não é acompanhada de um poetinha que faça música e leve a poesia para a alcova emocional dos fãs. Ler Vinícius é bom. Ouvir Vinícius é extraordinário. Sertanejo universitário, funk, tecnobrega são incapazes do mesmo prazer. Ligar o rádio do carro e ser cativado pela poesia política de Rosa de Hiroshima é coisa perdida impossível agora porque o pancadão musical requebra o quadril das doidinhas de microssaia na balada, mas não junta lê com crê.
A poesia musicada de Vinícius não contém glúteo, gordura para saturar o tempo, açúcares que enjoam e, ainda assim, não é insossa, insípida, inodora. Vegetarianos e carnívoros a apreciam porque há sabor, inteligência, libido de um corpo dourado no doce balanço a caminho do mar.
Casamentos à luz dos olhos teus, eu sei que vou te amar e a cada ausência tua vou chorar. Declamações apaixonadas do Soneto de Fidelidade, sem a percepção de que a solidão é o fim de quem ama. Rupturas curtidas em tristeza que não tem fim porque a felicidade é pétala de flor que leve oscila e cai como lágrima de amor. Ora amor refinado, ora amor de bicho, sem virtude ou vício, desejo maciço.
Enquanto o mar inaugura um verde novinho em folha, argumentar com doçura com uma cachaça de rolha. Descrição lânguida de uma tarde que passa preguiçosa enquanto se ouve o diz-que-diz-que macio que brota dos coqueirais. Sonhei em dormir nos braços morenos da praia de Itapoã; ao conhecê-la e me decepcionar com a feiúra dos quiosques, lixo, imaginei o remorso do Poeta por ter atraído hordas de brutos ao Paraíso.
Nesse tributo ao imortal que tinha o dom de falar aos mortais, a nostalgia assoma como tsunami. Chega de saudade. Saravá meu irmão!
Eleição sem Lula ou Bolsonaro deve fortalecer partidos do Centrão em 2026
Saiba quais são as cinco crises internacionais que Lula pode causar na presidência do Brics
Elon Musk está criando uma cidade própria para abrigar seus funcionários no Texas
CEO da moda acusado de tráfico sexual expõe a decadência da elite americana