Em 1995 a internet fez a estreia comercial no Brasil. Os primeiros provedores lutavam contra as estatais de telefonia para conseguir linhas telefônicas – então analógicas – em número suficiente. A velocidade de transferência de dados era risível para os padrões de hoje, mas a conexão entre os computadores e a possibilidade de buscar informações no Altavista, usando o Netscape, eram fantásticas. O Eudora para e-mails dava status social naqueles momentos em que era preciso explicar a alguém o que era internet etc.
As linhas de celular caríssimas e as filas de inscrição quilométricas tornavam mais fácil internet em casa do que conseguir o StarTAC. Abrir o aparelhinho imitando o Capitão Kirk fazia a diversão dos fãs do Spock. Deslumbramento e alegria, ainda que as coisas corressem melhor nos Estados Unidos e nós, como sempre, semiparalisados pelo funcionamento cartorial do país. Limpando latrinas na Enterprise, mas lá.
As duas décadas passaram como tempo de era geológica. Hoje, a internet está nos telefones e bilhões de pessoas hiperconectam-se diuturnamente. Um dia sem WhatsApp é catastrófico, apocalíptico.
Ora, basta manuscrever carta, em letra cursiva, ir até a agência dos Correios, enfrentar a fila, postá-la. Se o destinatário decidir responder, em duas semanas o remetente terá notícias. Outro mundo foi possível!
O passo complementar ao da conexão entre as pessoas é o enlace entre as coisas e as coisas e as pessoas
Excluídos da internet, apenas os povos em extrema pobreza material ou política. De regra, padecem de ambas simultaneamente. A conectividade é o bem civilizacional que mais rapidamente alcançou todos os estamentos econômicos, políticos, culturais.
Às novidades tecnológicas faltam nomes. Até a existência do aparelho de ver a distância, não havia a palavra “televisor”. Os americanos, criadores do aparato, buscaram a raiz greco-latina e construíram o nome. Ótimo porque partilhamos essa fonte cultural. Ocorre, muitas objetos e operações inovadores também criados por anglófonos são batizados com palavras de matiz bárbara, sem sonoridade adequada a nós, periferia patética do novo paraíso artificial.
Pois bem, o passo complementar ao da conexão entre as pessoas é o enlace entre as coisas e as coisas e as pessoas. A geladeira vai dizer ao forno qual a temperatura de congelamento do frango que começou a ser assado. O casaco vai dizer ao dono que está na hora de ir à lavanderia e que a coleta domiciliar está a caminho. O enlace comunicativo entre objetos tem recebido o nome de “internet das coisas” – internet of things.
Assumindo a mediocridade cultural decorrente do nanismo político e científico no mundo, ao menos poderíamos denominar essa inovação de thingnet, de sonoridade pouco eufônica nas línguas latinas, mas de fácil aceitação em razão da alta difusão do inglês.
O fato é que a quebra da barreira da instantaneidade nos acostumou com a celeridade para tudo, inclusive para a obsolescência e início de aprendizado de equipamentos e possibilidades que se tornam subitamente imprescindíveis. Quem sabe a Skynet do Exterminador do Futuro esteja à porta?
Hasta la vista, baby!
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