A eleição presidencial pós-Lava Jato certamente inaugurará um novo capítulo na história do Brasil, para o bem ou para o mal. Isso vai acontecer mesmo que o resultado seja o retorno de Lula – o que, em teoria, seria mais do mesmo; só que, na prática, ninguém mais o deterá. As urnas terão endossado os crimes por ele cometidos, dando espaço para que estes sejam aperfeiçoados, assim como foram do mensalão ao petrolão, e muito provavelmente estaremos caminhando para uma ditadura em sentido estrito. O PT fará de tudo para nunca mais deixar o poder. Caso a vitória de Lula não se concretize, nem tudo estará perdido para a esquerda: ainda há Ciro Gomes e Marina Silva. Se qualquer um deles ganhar a eleição, ficará claro que a hegemonia da esquerda na cultura segue firme e forte a ponto de abortar a oposição recém-nascida. Já uma vitória de Jair Bolsonaro ou de João Doria significaria, de fato, uma mudança de rumo na política, o fortalecimento das instituições e da democracia. Carlos Andreazza analisa o cenário eleitoral para 2018 dos candidatos à esquerda.
Datafolha e Picasso
Traduzir escolhas humanas e tendências de comportamento em estatísticas é uma arte. Nesse sentido, os institutos de pesquisa podem estar, por assim dizer, inspirados no realismo de um pintor renascentista ou na desconstrução de um Picasso. A última pesquisa Datafolha de intenção de voto para presidente nas próximas eleições trouxe resultados que intrigam o bom senso: Lula sempre à frente (não obstante, com nada mais do que sua fatia historicamente cativa do eleitorado), e só vencido num segundo turno por Marina Silva – aquela que não alcançou nem o morno Aécio em 2014, que só foi para o segundo turno mais pela rejeição à presidente Dilma que pela adesão a sua candidatura – e por Sergio Moro (?). Assim, o Datafolha fez soar o alarme de “Lula vai voltar”, mas deixando a estranha sensação de que o cenário ali descrito é incompatível com a realidade que testemunhamos em 2016: brasileiros, de todas as classes sociais, em todos os cantos do país, que saíram em peso às ruas para entoar o coro de “Fora PT” e apoiar a Lava Jato.
Ciro Gomes
Olhando para o espectro atual de políticos (assumidamente) à esquerda, temos Ciro Gomes numa ponta e Marina Silva na outra. Ciro é nacionalista, Marina é globalista; Ciro é esquerda old school, Marina é politicamente correta. Ciro diz que só disputará a eleição em 2018 se Lula não for candidato. Se isso acontecer, veremos uma disputa de forças para ver quem assumirá o vácuo de poder deixado pelo PT. Recentemente, numa palestra na USP, Ciro baixou o nível falando de João Doria. Fez um comentário chulo, que na boca de Bolsonaro certamente seria tratado como homofóbico, mas em Ciro virou mero gracejo. Eric Balbinus analisa o perfil do pré-candidato do PDT, ressaltando a postura indulgente do eleitorado de esquerda – que nos dias de hoje costuma se escandalizar com tanta facilidade por causa de palavras ofensivas, menos quando quem as diz é um dos seus.
O que Moro faz na pesquisa Datafolha?
Podemos e devemos analisar todos os possíveis cenários eleitorais para 2018, e suas consequências, mas dentro de critérios de razoabilidade. Cogitar um cenário de disputa entre Lula e Sergio Moro – este sem tempo e muito menos interesse em disputar as eleições – não serve a outro propósito além de reforçar a ideia de que há um embate político entre ambos, quando nada mais ocorre do que a simples e necessária aplicação da Justiça.