Não à toa o mundo está com os olhos voltados para a guerra civil na Síria. Ali está sendo jogado o xadrez global entre os atuais protagonistas da geopolítica (EUA, Rússia, jihadistas, e de lambuja Irã, China, Israel, Arábia Saudita, Turquia, União Europeia entre outros), cada um com seu interesse particular na manutenção ou queda do regime do ditador Bashar al-Assad. Ali estabeleceu-se o palco dum conflito que extrapola em muito o destino da Síria e que pode significar desde a ascensão do Estado Islâmico ao poder, com todas as implicações que isso traria à segurança do ocidente, até o desencadeamento de uma nova guerra mundial. Para entender o que acontece na Síria, vejamos o vídeo a seguir, que é anterior ao ataque americano à base aérea de Shayrat, explicando a origem do conflito, a configuração das alianças firmadas com nações estrangeiras, e o surgimento do grupo conhecido como Estado Islâmico.
O ataque americano à Síria foi um erro
O ditador Bashar al-Assad usou armas químicas contra os sírios. Ele fez isso em 2011, e novamente em 2013 – desafiando o governo Obama ao cruzar a tal “linha vermelha” que estabelecia o uso do arsenal químico como a extrapolação dos limites do que lhe fora “concedido”, por assim dizer, fazer em sua guerra contra os rebeldes sem que fosse repreendido militarmente pelos Estados Unidos; e ele saiu vitorioso com o recuo do presidente Obama, que aceitou a promessa de que o governo sírio se livraria das armas químicas, feita num acordo que teve a mediação da Rússia (pró-Assad). Agora, em 2017, mais uma vez Assad utilizou o abominável gás sarin contra a população de uma região dominada pela Al-Qaeda (oposicionistas), ceifando a vida de dezenas de crianças, inclusive. Assad é um tirano cruel, não restam dúvidas. Mas uma questão que não pode ser ignorada é que ele tem o apoio da Rússia, Irã, China, Coreia do Norte e outros. Imaginem o tamanho da encrenca que é puxar briga com o ditador sírio! Outra questão importantíssima é de que os grupos que hoje lutam contra Assad para assumir o poder são piores do que ele: Estado Islâmico, Al-Qaeda e outros grupos sunitas jihadistas. Dado isso, muitos americanos são terminantemente contrários a qualquer intervenção dos Estados Unidos no conflito – e entre eles está uma boa parcela do eleitorado de Donald Trump, que, durante sua campanha, assinalou não estar interessado em mudança de regime na Síria. Esses são chamados de “isolacionistas”, porque entendem que governo americano deve colocar em primeiro lugar os interesses de seu povo, e não se comportar como a polícia do mundo, o que foi desastroso no caso das guerras do Iraque e do Afeganistão. Vejamos o que pensa Paul Joseph Watson sobre o recente ataque americano – autorizado por Trump – a uma base aérea síria.
O ataque americano à Síria foi o melhor a se fazer
Os principais defensores da intervenção americana na Síria são os “neocons” (ligados à ala republicana pró-Bush) e os “liberals” (esquerdistas). Trump nunca esteve alinhado a nenhum desses grupos (apesar de ter em seu governo diversos neocons que o aconselham). Por que, então, resolveu retaliar Assad? Filipe Martins já nos ajudou a entender essa questão em artigo recente para a Gazeta, mostrando que o atual presidente americano não foi imprudente; ao contrário, com sua equipe, arquitetou uma ação muito bem calculada para responder à audácia de Assad – mostrando que ele não é um frouxo como Obama e nem subordinado do Putin – sem efetivamente tirar o ditador do poder e iniciar uma guerra mundial. É claro que a escolha de Trump corria o risco de acabar mal, e a “guerra de influência” podia ir por água abaixo tornando-se guerra de verdade. Ao que parece até o momento, o plano deu certo. Agora trago também a contribuição da comentarista política Vilma Gryzinski e do o ex-primeiro ministro da Dinamarca Anders Rasmussen sobre a escolha de Trump. Gryzinski mostra o desnorteamento dos anti-Trump e dos isolacionistas e fala dos desafio daqui por diante nesse conflito. E Rasmussen explica a importância da interferência ativa dos Estados Unidos nessa guerra, até como medida peremptória de autopreservação. O imprudente seria deixar os malfeitores cientes de que podem cometer crimes de guerra e sair impunes; afinal, seria uma questão de tempo até os Estados Unidos se tornarem o alvo.
Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos
Para certas decisões que tomamos, as que envolvem alto grau de risco, sempre haverá quem as julgue como corajosas e quem as julgue como irresponsáveis. A certeza sobre o juízo só virá depois do resultado. No caso recente de uso de armas químicas por Assad e posterior retaliação de Trump, ainda há muitos fatos nebulosos que atrapalham a avaliação das circunstâncias. Por exemplo, não temos certeza das motivações de Trump para o bombardeio à base aérea, nem quais serão seus próximos passos. Também não temos certeza de que Assad foi mesmo o responsável pelo ataque com armas químicas. Mas, na prática, o que vai definir o sucesso ou o fracasso da inventiva de Trump contra Assad, se continuar nessa toada até depor o ditador, será quem vai assumir o governo da Síria. Aguardemos as cenas dos próximo capítulos, tomando cuidado com análises apressadas.